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FERNANDO GABEIRA
Problemas e campanhas
DOS TEMAS que interessam
ao Brasil, três deles me estimulam a escrever esta semana. Um deles é o debate sobre
violência urbana, impulsionado
pelo filme "Tropa de Elite". O outro é o temor das pessoas que dependem de direitos autorais, nesta
época de grandes mutações tecnológicas. O terceiro é a declarada
epidemia de dengue que atinge o
país.
Num espaço tão curto, a fórmula
ideal para tratá-los seria a técnica
de carretel de John dos Passos,
imitada por Sartre em sua trilogia
"Caminhos da Liberdade". Frases
independentes entre si, do tipo: enquanto mosquito de dengue atacava em Mato Grosso do Sul, os tiroteios nas favelas do Rio matavam 11
pessoas e Madonna decidia abandonar a gravadora.
Busco outro caminho. Achar um
traço comum nesses três temas, algo que possa realmente representar um vínculo. Os direitos autorais
não serão preservados com campanhas de fundo moral contra a pirataria. Eles dependem muito do
próprio avanço tecnológico, e o
Google deu um passo, protegendo
os filmes no YouTube.
Depois do filme "Tropa de Elite",
há uma grande carga contra usuários de droga. Eles seriam os culpados da violência urbana, sócios dos
traficantes. A partir do próprio filme, surgiu a figura do estudante da
PUC que lê filósofos franceses. Nos
EUA, universitários leram os franceses, embora tenha sido moda
passageira. Também fumam seu
baseado. No entanto a tática americana é a de prender; as cadeias estão superlotadas de acusados de
uso de droga.
Há um certo ressentimento social, já presente no livro "Elite da
Tropa", contra o playboy responsável por tudo isso, na visão do soldado da PM. É da mesma natureza do
ressentimento contra os que usam
Rolex e reclamam por serem roubados. Com a diferença essencial:
os roubados estão dentro da lei, os
fumantes contra ela.
A suposição de que as campanhas de fundo moral resolvem subestima a capacidade de um trabalho de inteligência policial e dos
grandes avanços tecnológicos.
No caso da dengue, instalada a
crise, surgem também as campanhas definindo a responsabilidade
de cada um. Se todos se moverem,
dizem os anúncios, o mosquito será derrotado. O índice de mortalidade no Brasil está sendo muito alto. Falta competência para o diagnóstico rápido.
Falta governo. E um pouco de espaço para mostrar que até a liberdade de usar o próprio corpo depende do avanço do Estado para
garanti-la. Reforma da polícia, proteção tecnológica ao autor e eficácia na saúde não eliminam campanhas. Mas podem iluminá-las.
assessoria@gabeira.com.br
FERNANDO GABEIRA escreve aos sábados nesta
coluna.
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