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RUY CASTRO
A bossa nova e a ararinha
RIO DE JANEIRO - A Prefeitura
do Rio tombou a bossa nova como
patrimônio cultural imaterial da cidade. Como homenagem, é bonito e
justo. Por seu formato, espírito e temática, a bossa nova é uma variação
do samba que só poderia ter nascido no Rio. Sua flexibilidade, no entanto, fez com que fosse logo aprendida e adotada por músicos de toda
parte, e sua sofisticação garantiu
que continuasse a ser produzida até
hoje, de Tóquio ao Tatuapé.
Segundo o noticiário, o alcance
prático do tombamento é "preservar" o gênero. Mas pode-se preservar um gênero musical por decreto?
Como não é atribuição das prefeituras abrir casas noturnas onde tal ou
qual música seja tocada, imagino
que, já neste verão, teremos shows
gratuitos de bossa nova nos parques, praias e calçadões da cidade,
com os artistas pagos pela Secretaria de Cultura. Isso, sim, seria contribuir para a preservação da bossa
nova, além de atender as expectativas dos turistas, que chegam ao Rio
esperando ouvir "Garota de Ipanema" assim que botam o pé no Galeão, digo Tom Jobim.
Seria também uma forma de
compensar os músicos pelo mercado, para eles, sempre insuficiente.
Mas esse problema não é só da bossa nova. Quem chegar hoje a Nova
York pensando ouvir jazz logo ao
descer no Kennedy também se
frustrará: uma edição recente da revista "The New Yorker" listava apenas sete casas de jazz em Manhattan. No Rio, há um número equivalente de lugares onde se pode ouvir
bossa nova.
Não, ela não está nas paradas.
Mas tem surgido gente nova e competente, há 30 projetos de festivais
"50 anos da bossa nova" (que ela
completará em 2008) disputando a
Lei Rouanet e as lojas nunca tiveram tantos discos do gênero para
vender. Entre a bossa nova e a ararinha azul, a ararinha está mais
ameaçada de extinção.
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