São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2007

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RUY CASTRO

A bossa nova e a ararinha

RIO DE JANEIRO - A Prefeitura do Rio tombou a bossa nova como patrimônio cultural imaterial da cidade. Como homenagem, é bonito e justo. Por seu formato, espírito e temática, a bossa nova é uma variação do samba que só poderia ter nascido no Rio. Sua flexibilidade, no entanto, fez com que fosse logo aprendida e adotada por músicos de toda parte, e sua sofisticação garantiu que continuasse a ser produzida até hoje, de Tóquio ao Tatuapé.
Segundo o noticiário, o alcance prático do tombamento é "preservar" o gênero. Mas pode-se preservar um gênero musical por decreto? Como não é atribuição das prefeituras abrir casas noturnas onde tal ou qual música seja tocada, imagino que, já neste verão, teremos shows gratuitos de bossa nova nos parques, praias e calçadões da cidade, com os artistas pagos pela Secretaria de Cultura. Isso, sim, seria contribuir para a preservação da bossa nova, além de atender as expectativas dos turistas, que chegam ao Rio esperando ouvir "Garota de Ipanema" assim que botam o pé no Galeão, digo Tom Jobim.
Seria também uma forma de compensar os músicos pelo mercado, para eles, sempre insuficiente. Mas esse problema não é só da bossa nova. Quem chegar hoje a Nova York pensando ouvir jazz logo ao descer no Kennedy também se frustrará: uma edição recente da revista "The New Yorker" listava apenas sete casas de jazz em Manhattan. No Rio, há um número equivalente de lugares onde se pode ouvir bossa nova.
Não, ela não está nas paradas. Mas tem surgido gente nova e competente, há 30 projetos de festivais "50 anos da bossa nova" (que ela completará em 2008) disputando a Lei Rouanet e as lojas nunca tiveram tantos discos do gênero para vender. Entre a bossa nova e a ararinha azul, a ararinha está mais ameaçada de extinção.


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