São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

TENDÊNCIAS/DEBATES

Deficiente é a inclusão social

EDUARDO DE ALMEIDA CARNEIRO


Como as crianças deficientes podem ser educadas de modo adequado se há lacuna de educadores que respondam a suas necessidades específicas?

De acordo com o Censo 2000, 14,5% da população apresenta algum tipo de incapacidade ou deficiência física. Visto assim, como simples estatística, estamos diante de um número curto e frio.
Tão frio quanto ignorar que, na prática, estamos falando de um contingente de mais de 27 milhões de brasileiros! É como se a todos os cidadãos de toda a Grande São Paulo estivesse faltando um braço, uma perna. Ou os dois. Ou os quatro.
Como se nós vivêssemos em uma metrópole literalmente movida à cadeira de rodas. Mas ainda assim cidadãos, com todos os direitos -e deveres- iguais aos de qualquer pessoa que esteja lendo este artigo neste momento.
O Brasil é signatário da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Mas nós, brasileiros, infelizmente ainda somos preconceituosos e hipócritas ao julgar (quem pode julgar?) o deficiente não pelo valor humano do seu olhar, mas pelas formas físicas que os diferem da média.
No "país do futuro", com uma das economias mais vibrantes e crescentes da atualidade, perde-se uma oportunidade astronômica de vencer barreiras e promover a inclusão social de gente com enorme vontade e capacidade de trabalhar, sustentar famílias, gerar renda, estudar e ser respeitada.
Ou seja, simplesmente participar e usufruir da sociedade. Sem dúvida os empregadores da iniciativa pública e privada estão se preocupando cada vez mais em promover ambientes de trabalho adaptados. Mas é o suficiente? Não.
Os olhares indiscretos dos colegas de escritório são muros de concreto intransponíveis.
E como elas chegam ao trabalho com tantas calçadas esburacadas, motoristas que não respeitam faixas de trânsito, transporte público adaptado incrivelmente escasso e passageiros sem a menor paciência para esperar o cadeirante se acomodar no ônibus ou no metrô?
Como as crianças deficientes podem ser educadas adequadamente com uma preocupante lacuna de educadores, despreparados para responder às suas necessidades específicas? Aliás, o que os engenheiros dos estádios da Copa de 2014 e das demais obras deste canteiro chamado Brasil estão preparando para os 27 milhões de torcedores?
Há 61 anos, a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), entidade sem fins lucrativos, com seus profissionais e voluntários, vem lutando para tratar, reabilitar e promover a inclusão social de pessoas com deficiência física.
Em 2010, conseguiu realizar 1.348.799 atendimentos, entre cirurgias, consultas, aulas e terapias.
Foram mais de 5.800 atendimentos diários, 6.451 cirurgias e 60.655 aparelhos ortopédicos fabricados e comercializados, que contribuíram para melhorar a qualidade de vida de milhares de deficientes físicos.
Graças à gestão profissionalizada e, principalmente, às doações do Teleton (campanha televisiva que será levada ao ar nos dias 21 e 22 de outubro pelo SBT e pela TV Cultura), mantém 12 unidades no Brasil.
Vitórias diárias, sabemos. Mas cujas medalhas da inclusão social e do fim do preconceito ainda esperamos receber.

EDUARDO DE ALMEIDA CARNEIRO é presidente voluntário da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES
Leandro Narloch e Duda Teixeira: Revista de Estudos Atrasados

Próximo Texto: Painel do Leitor
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.