|
Próximo Texto | Índice
EFEITOS COLATERAIS
Número crescente de analistas
recomenda ao BC aumentar
os juros básicos em sua reunião de
hoje, como resposta à alta da inflação. Muitos discordariam, recordando que a pressão sobre os preços advém da alta do dólar -um choque
de custos ao qual, sobretudo num
contexto de crédito externo fechado
ao país, parece inadequado responder com um aumento dos juros.
Atentos a esse argumento, os defensores da elevação dos juros apontam que a alta dos preços não se restringe a poucos itens, mas se generalizou. Isso indicaria que há pressões
de demanda, às quais caberia responder elevando os juros.
Mas a generalização dos reajustes
de preços é um indício apenas indireto de alta da demanda. Essa generalização pode ter outras raízes. Muitos
itens têm seus preços, ou boa parte
de seus custos, atrelados diretamente ao dólar; ao lado disso, os reajustes
nominais de salários estão em discreta aceleração -o que pode se dever mais à influência da alta da inflação observada desde 2001 do que a
um mercado de trabalho aquecido.
Seria o caso de buscar evidências
diretas de aquecimento da demanda
interna. Essas são poucas e, sobretudo, não são generalizadas. É por isso
que o quadro geral da atividade econômica é de quase estagnação.
Os focos mais significativos de demanda dinâmica estão nos setores
de bens de consumo duráveis e de
imóveis. O efeito inibidor sobre esses
preços de uma alta de juros tenderia a
ser limitado, dado que o aumento da
demanda por esses bens parece se
alimentar de um desejo dos segmentos de renda média e alta de, diante
da incerteza, diversificar os ativos
que utilizam como reserva de valor.
O balanço entre os benefícios e os
custos de nova elevação dos juros
não parece favorável. Sua contribuição para a desaceleração dos índices
de varejo tenderia a ser lenta e limitada. Mas os efeitos colaterais seriam
sérios: o custo da dívida pública subiria, criando pressões por elevação
compensatória da meta de superávit
primário. E, numa economia em
contração, com arrecadação de impostos prejudicada, atingir essa meta
tenderia a se revelar cada vez mais difícil -criando o risco de que surgissem impasses com o FMI.
Próximo Texto: Editoriais: INTERFERÊNCIAS DOS EUA Índice
|