São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

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INTERFERÊNCIAS DOS EUA

A cortesia diplomática com que os norte-americanos vão tratando o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva contrasta com duas ações de Washington contra interesses comercias brasileiros tomadas recentemente. Os americanos se intrometeram em assuntos de comércio entre o Brasil e o Canadá e entre o Brasil e a Colômbia, causando prejuízos para os brasileiros.
Com os canadenses, Brasília conseguiu reconstruir uma ponte comercial depois do trauma nas relações bilaterais causado pela disputa entre as fabricantes de aviões Embraer e Bombardier. Tratava-se de um acordo que reabriria o mercado daquele país ao frango brasileiro. Mas os americanos, alegando temores de que a carne pudesse estar contaminada com o vírus de New Castle, impediram os compradores canadenses do frango brasileiro de exportarem para os EUA. Registre-se que o Brasil cumpriu exigências sanitárias para poder voltar a vender para o Canadá. A medida, na prática, inviabiliza o acordo com os canadenses.
O segundo evento recente de interferência dos EUA mistura interesses comerciais com geopolíticos. Um mês depois de um general dos EUA ter recomendado à Colômbia a revisão de uma compra de 40 aviões da Embraer, Bogotá anunciou a suspensão das negociações com a empresa de São José dos Campos. Os americanos são financiadores das ações dos militares colombianos no combate ao narcotráfico e, por tabela, aos guerrilheiros das Farc.
As demonstrações de cordialidade da diplomacia americana com o futuro governo Lula parecem não significar que Washington venha a facilitar a consecução dos interesses brasileiros, seja no campo comercial, seja no geoestratégico. Pelo contrário, os EUA parecem dispostos a ampliar ainda mais sua influência militar e econômica na América do Sul. O Brasil precisa de estratégia e de parcerias para tentar conter esse ímpeto.


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