São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A nota baixa do ensino médio MIGUEL JORGE
Por mais entusiasmado com o recorde de matrículas no ensino fundamental e com as oportunidades abertas pelo atual governo na educação, nenhum brasileiro sensato admitiria que
nossa população pudesse vir a ser formada só por pessoas com curso universitário ou respeitadas por seu talento.
Claro que nem todos serão ricos, usarão
anéis de doutor, administrarão empresas, vão se formar como médicos, professores, economistas etc., ou melhorarão de vida, mesmo com chances iguais
de se educar.
Na rede pública, o desempenho dos estudantes foi pior, com 84,5% recebendo nota ainda menor -a média geral da prova objetiva, que envolve conhecimentos gerais e redação, ficou em 34,13 pontos. A média dos alunos de escolas públicas na prova geral atingiu 30,39, enquanto os alunos da rede privada alcançaram 47,22; computados os brancos e os negros, os primeiros obtiveram 36,86 de média e estes, 29,65. Não houvesse crescente esperança de que os jovens terão uma vida melhor que a dos seus pais, com os progressos na educação, dir-se-ia que de nada adiantou o maior acesso à escola. Esses resultados foram os piores desde 1998, quando começou esse processo de avaliação do ensino médio, mas de maneira nenhuma culpa deve ser atribuída só aos estudantes; a maioria deve ter se esforçado para executar suas tarefas escolares. Nada menos de 94,4% dos estudantes reivindicaram do Ministério da Educação mais aulas de revisão, o que mostra seu interesse pelos estudos, e mais da metade declarou que estudava e trabalhava ao mesmo tempo. Culpe-se, portanto, a realidade que cerca a família brasileira, em grande parte chefiada por pais de baixa escolaridade, fator que prejudica o acompanhamento e o desempenho escolar. Estudantes cujos pais não estudaram ou têm rendimento de um salário mínimo -R$ 200- alcançaram a média modesta de 26 no teste de conhecimentos e de 47 na redação; os filhos de pais que concluíram o ensino médio e os com renda de cinco a dez salários mínimos tiveram 37 e 57, respectivamente. Outra triste realidade: os estudantes pobres que terminaram o ensino médio na rede pública, quando submetidos ao teste, fizeram uma leitura superficial e fragmentada dos textos, o que ocorreu menos na escola privada. Conclusão inevitável é a de que a qualidade de nosso ensino médio é tanto maior quanto maiores forem os recursos das famílias dos alunos, e ainda assim estamos devendo. É preciso que o próximo governante prossiga na revolução da educação iniciada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Neste ano, 65% dos que fizeram os exames vieram de famílias que têm renda abaixo de cinco salários mínimos Nas famílias com renda acima de 50 salários, a média foi de 52,6 pontos, um desempenho fraco. Que o presidente eleito, que conheceu os dois lados dessa crua realidade -a barriga vazia e a escola pública- e que estudou matemática fazendo contas em papel de pão, seja sensível a essa situação. É prioritário que o futuro governo, que após as eleições ainda não se manifestou sobre a educação, dedique todas as verbas possíveis para melhorar a qualidade do ensino. Um programa contra a fome é fundamental, mas a educação universal e de qualidade é o único fator capaz de permitir que nosso país seja competitivo e eficiente e, com isso, acabe com a miséria e a fome. Miguel Jorge, 57, jornalista, é vice-presidente de Assuntos Corporativos do Grupo Santander Banespa. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Jack Leon Terpins: Parabéns, povo brasileiro Índice |
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