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MUDAR DE PATAMAR
A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central
de reduzir de 19% para 17,5% a taxa
básica de juros recoloca a Selic praticamente no nível em que se encontrava em setembro do ano passado
(18%), quando as condições da economia se deterioravam, o que levou a
uma elevação de três pontos em outubro. Transcorrido mais de um ano,
portanto, em termos de juros conseguimos chegar meio ponto abaixo de
onde estávamos.
Ao longo desse período, o país passou por uma problemática mudança
de governo, viveu uma grave crise de
confiança, a cotação do dólar disparou, a inflação descontrolou-se, os
juros subiram vertiginosamente e a
economia real e o emprego foram
duramente golpeados. Não há dúvida de que as perspectivas agora
-perdido esse tempo com tantas
turbulências e fortes ajustes- são de
retomada da atividade econômica. O
progressivo afrouxamento da política monetária (já foram reduzidos nove pontos desde junho) vai animando as expectativas de que 2004 será
um ano melhor. A inflação tem se
mantido baixa, o câmbio, menos volátil, os superávits comerciais, elevados e a economia internacional vai
encenando um início de reaquecimento.
À luz das agruras de 2003, no entanto, corre-se o risco de que esse cenário de alívio acabe sendo mais valorizado do que mereceria. Visto em
perspectiva, um crescimento cíclico
da ordem de 3% ou 3,5% do PIB, como muitos analistas esperam, pode
se revelar apenas uma bolha menos
medíocre no fraco ritmo de expansão que, lamentavelmente, se vem
tornando um padrão da economia
brasileira nos últimos anos.
Já é hora de o país começar a superar essa situação bizarra que faz com
que os agentes econômicos se vejam
a cada mês diante de uma espécie de
loteria de aflitos para saber se os juros básicos cairão míseros pontos
dentro de um patamar que permanece sempre extremamente elevado
-para não mencionar o nível das taxas praticadas no mercado.
O que o Brasil espera do novo governo, uma vez contornado o pior, é
que cumpra suas promessas de valorizar a produção. Crescer e aumentar
o emprego é do que o país mais precisa -e foi o que o PT prometeu.
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