São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Violência e justiça
TAÍS GASPARIAN
É inegável que o crescimento da violência é um dado real, que merece firme e constante atuação do governo federal, não fosse por outra razão, no mínimo por representar um alto custo para a sociedade. Estudo do BID realizado em 1996/97 estima que, no Brasil, o custo direto decorrente da violência tenha representado quase 2% do PIB. Atualmente, há quem diga que essa porcentagem chega a 10%. A percepção dos diversos tipos de violência não corresponde exatamente aos dados da realidade. A forma como a mídia aborda os fatos violentos, por exemplo, acaba por dar uma dimensão distorcida de certos atos criminosos. O sociólogo Tulio Kahn, em capítulo do livro "Cidades Blindadas" (ed. Sicurezza), de sua autoria, analisa a relação entre criminalidade e meios de comunicação. Ele demonstra que muitas vezes é a cobertura da mídia -e não as escassas pesquisas de criminologia- que mais exerce influência sobre a administração da Justiça. Narra ele, nesse estudo, que os pequenos furtos e as lesões corporais são, de longe, os delitos mais frequentes nas estatísticas oficiais de criminalidade, mas são praticamente esquecidos pelos jornais, até por não despertarem grande curiosidade. Os sequestros, estupros, chacinas e tráfico de drogas, que estão sempre presentes na mídia, representam, proporcionalmente, um número muito menor dos atos que compõem o quadro da violência atual. Pesquisa realizada pelo Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente), sobre a comparação da incidência de crimes na mídia e nos dados oficiais, durante determinado período de 1998, em São Paulo, revela que, muito embora o sequestro tenha representado, naquele período, cerca de 0,0001% da totalidade dos crimes registrados na polícia, ele representou 10% dos crimes noticiados pelos jornais. Essa sistemática, repetida ao longo do tempo, faz com que não apenas a sociedade tenha uma visão desfocada da realidade, como também acaba por justificar políticas públicas igualmente distorcidas, com pouco ou nenhum efeito sobre a violência, que, sem nada que a detenha, segue sua curva ascendente. A violência é um tema plurifacetado, com inúmeras causas, e deve ser tratada de modo abrangente. Não é por outra razão que está sob a órbita de competência do Ministério da Justiça, que congrega um amplo espectro de áreas de interesse da sociedade e está, por esse motivo, mais apto a tratar do problema. Taís Gasparian, 44, advogada, mestre em direito pela USP, é chefe-de-gabinete do ministro da Justiça. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Roberto Luis Troster: Os bancos e a inflação Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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