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Criminosos na polícia
UM DOS mecanismos mais
insidiosos a corroer a autoridade do poder público
no Brasil é a infiltração do crime
organizado no aparelho do Estado. Esse tumor cresce porque se
nutre, em grande medida, da desarticulação entre as esferas da
burocracia pública que deveriam
combater a delinqüência.
Nesse contexto, é auspiciosa a
operação lançada pela Polícia
Federal (PF), em colaboração
com autoridades fluminenses,
que fustigou a máfia que controla os caça-níqueis no Estado e resultou na prisão de dezenas de
policiais civis e militares acusados de vender proteção aos criminosos. As investigações reuniram indícios de envolvimento na
quadrilha do então chefe da Polícia Civil do Rio, eleito deputado
estadual em outubro.
Resta esperar que ao estardalhaço com que se anunciam essas
operações federais corresponda
um trabalho diligente, que permita uma boa instrução criminal
e a condenação dos culpados.
Embora o caso do Rio de Janeiro pareça particularmente grave,
a infiltração do crime nas polícias se repete em outros Estados
da federação. Os órgãos locais de
controle têm enormes dificuldades para investigar e reunir provas contra policiais bem posicionados na hierarquia, que podem
exercer grande influência sobre
a corregedoria ou o serviço reservado das PMs -quando não
os comandam diretamente.
Assim, a PF tem um importante papel a desempenhar na depuração das policias dos Estados.
Sua estrutura hierárquica lhe dá
uma liberdade de ação que delegados da Polícia Civil nem sempre têm. Mais do que isso, o fato
de policiais federais não estarem
em contato tão direto com delinqüentes os torna menos propensos à cooptação criminosa.
Para que a ação da PF seja tão
efetiva quanto possível, no entanto, ela deve sempre trabalhar
em coordenação com os setores
não-conspurcados das polícias
locais. Se os órgãos de controle
nem sempre podem agir contra
os maus agentes, quase sempre
são capazes de identificá-los.
A corrupção nos meios policiais se transmite de agente para
agente e tende a alastrar-se. É
importante, portanto, tentar
contê-la antes que contamine de
vez a corporação.
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