São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

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Criminosos na polícia

UM DOS mecanismos mais insidiosos a corroer a autoridade do poder público no Brasil é a infiltração do crime organizado no aparelho do Estado. Esse tumor cresce porque se nutre, em grande medida, da desarticulação entre as esferas da burocracia pública que deveriam combater a delinqüência.
Nesse contexto, é auspiciosa a operação lançada pela Polícia Federal (PF), em colaboração com autoridades fluminenses, que fustigou a máfia que controla os caça-níqueis no Estado e resultou na prisão de dezenas de policiais civis e militares acusados de vender proteção aos criminosos. As investigações reuniram indícios de envolvimento na quadrilha do então chefe da Polícia Civil do Rio, eleito deputado estadual em outubro.
Resta esperar que ao estardalhaço com que se anunciam essas operações federais corresponda um trabalho diligente, que permita uma boa instrução criminal e a condenação dos culpados.
Embora o caso do Rio de Janeiro pareça particularmente grave, a infiltração do crime nas polícias se repete em outros Estados da federação. Os órgãos locais de controle têm enormes dificuldades para investigar e reunir provas contra policiais bem posicionados na hierarquia, que podem exercer grande influência sobre a corregedoria ou o serviço reservado das PMs -quando não os comandam diretamente.
Assim, a PF tem um importante papel a desempenhar na depuração das policias dos Estados. Sua estrutura hierárquica lhe dá uma liberdade de ação que delegados da Polícia Civil nem sempre têm. Mais do que isso, o fato de policiais federais não estarem em contato tão direto com delinqüentes os torna menos propensos à cooptação criminosa.
Para que a ação da PF seja tão efetiva quanto possível, no entanto, ela deve sempre trabalhar em coordenação com os setores não-conspurcados das polícias locais. Se os órgãos de controle nem sempre podem agir contra os maus agentes, quase sempre são capazes de identificá-los.
A corrupção nos meios policiais se transmite de agente para agente e tende a alastrar-se. É importante, portanto, tentar contê-la antes que contamine de vez a corporação.


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