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CLÓVIS ROSSI
Resta o escracho
SÃO PAULO - Não basta que o
Congresso aprove um aumento menor -depois que o Supremo mandou refazer o procedimento. Será
apenas tirar o bode da sala, porque
o mau cheiro continuará.
O problema dos parlamentares
brasileiros está longe de ser o baixo
salário. O problema é o baixo rendimento, para não falar de baixo nível
e de alta corrupção, com umas poucas exceções.
Aliás, é bom imitar, com adendos,
Janio de Freitas e dar nome às exceções: Fernando Gabeira e Chico
Alencar (RJ); Mendes Thame, Luiza Erundina e Carlos Sampaio (SP);
Raul Jungmann e Roberto Freire
(PE); Walter Pinheiro (BA); Renato
Casagrande (ES); Henrique Fontana e Luciana Genro (RS). E os senadores Eduardo Suplicy, Jefferson
Péres, Heloísa Helena e Cristovam
Buarque.
Qualquer aumento será exagerado, nas circunstâncias, até porque o
problema da política brasileira não
se resume aos obscenos 91%. Pior
que isso é o fato de que a política, ao
menos no Brasil, deixou de ser a intermediação entre a sociedade e o
Estado, em busca do bem comum,
para passar a ser meio de vida, forma de enriquecimento e de fazer
negócios, lícitos ou não.
A maioria dos parlamentares lixa-se para a opinião pública, essa
pequena fatia politicamente alfabetizada e informada. Não depende
dela para se eleger, mas de currais
eleitorais. Não os antigos (ou também eles). Curral eleitoral hoje pode ser uma igreja que elege um dos
seus, seja ele mensaleiro ou não;
uma cidade (ou região) que elege o
"seu" deputado, seja ele sanguessuga ou não; uma comunidade qualquer (a dos radiouvintes, por exemplo) que elege o "seu" radialista, faça ele o que fizer.
Protesto por e-mail é bom, mas é
pouco. Essa gente só se comove
mesmo com "escracho", como dizem os argentinos (facada não é
"escracho", é violência). É o que
resta ao público indignado.
crossi@uol.com.br
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