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SEM MORDAÇA
Em outros tempos, o hoje ministro José Dirceu atacou o projeto da chamada Lei da Mordaça e
acusou o presidente Fernando Henrique Cardoso de "autoritarismo"
por tentar silenciar o Ministério Público (MP). Agora, o comportamento do titular da Casa Civil parece dar
crédito às especulações de que o governo petista moverá esforços para
aprovar a referida lei, que considera
crime o vazamento de informações
por promotores e procuradores.
Na última sexta-feira, irritado com
a cobertura das investigações sobre a
morte do prefeito Celso Daniel, o ministro da Casa Civil acusou o Ministério Público e a imprensa de "violar
diariamente a Constituição". Compreende-se o desconforto do ministro ao ter que arcar com os ônus de
agora ocupar a vitrine do poder.
Quanto às preocupações acerca de
eventuais equívocos e abusos cometidos por integrantes do MP e pela
imprensa na divulgação de investigações, elas são pertinentes -notadamente quando expõem suspeitos
sem os devidos cuidados para preservar a presunção de inocência.
É preciso notar, no entanto, que esses desvios ocorrem no interior de
um movimento mais amplo -e bastante saudável- de aprofundamento de investigações envolvendo a administração pública. E esse é o ponto: a preocupação parece ser antes de
tudo a de reduzir o impacto da atuação do Ministério Público em relação
às autoridades políticas.
Trata-se de um clássico conflito entre os princípios das garantias individuais e a publicidade de atos do poder, ambos consagrados na Constituição. A proposta da Lei da Mordaça
peca por tentar criar uma forma de
censura, quando o razoável seria punir o abuso com as leis existentes.
Quanto ao intuito de coibir vazamentos, está condenado ao fracasso. Nada impedirá que alguém possa fornecer informações a meios de comunicação sem ter o nome divulgado.
O melhor a fazer é usar os instrumentos disponíveis para minimizar
efeitos colaterais indesejáveis, mas
apostar firmemente no regime de
transparência e fiscalização dos poderes -o que requer independência
do Ministério Público e da imprensa.
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