São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

O ministro-monstro

RIO DE JANEIRO - Foram necessários 12 meses e alguns dias para que o presidente da República descobrisse o que estava faltando a seu governo: um ministro que fosse ministro dos demais, um núcleo de poder e de ação que fizesse a máquina funcionar, um super-ministro enfim.
Independentemente do nome escolhido, a função é que intriga a nação. Afinal, compacta maioria do nosso povo votou em Lula para ser exatamente o núcleo do poder e da ação, chefiando os outros ministros, que não foram eleitos pelo povo, mas escolhidos a dedo por ele próprio.
Na prática, alguns titulares de pastas importantes, como a da Casa Civil e a da Fazenda, já funcionam como ministros especiais e detêm o controle da cúpula burocrática e financeira do governo. E o presidente, onde é que fica?
Na Líbia, estreitando relações comerciais com Gaddafi ? Na Festa da Uva, coroando a rainha da colheita e recebendo um boné alusivo à cerimônia? Soltando fogos de artifício no jardim do Alvorada, saudando o Ano Novo que trará o espetáculo do crescimento para todos nós? Muito simpático, mas efêmero como um busca-pé de festa junina.
No fracasso ou no sucesso, um governo tem a cara de seu presidente. Produzir, após 12 meses de trabalho, um ministro-ônibus, feito de pedaços dos outros, como um Frankenstein administrativo, é escamotear a função que foi delegada ao presidente.
Uma dupla no poder é como uma dupla na direção técnica de uma seleção de futebol. Lula entende do assunto, gosta sempre de usar imagens de seu know-how de torcedor dos nossos estádios.
Se as coisas não estão funcionando bem no setor social, não se deve culpar os ministros e os funcionários da área. A impressão causada pelo monstro fabricado nas retortas do governo é a de encontrar um bode expiatório que leve as porradas por aquilo que não der certo.


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