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Enfeites de cenário
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Responda rápido: quem é
o presidente nacional do PFL? E do
PSDB? Não sabe? Não tem a menor
importância, como não estão tendo a
menor importância, na crise em andamento, os presidentes desses dois partidos, embora sejam os principais da
chamada base governista.
Vale idêntico raciocínio para os demais caciques políticos. Aos presidentes do Senado, Antonio Carlos Magalhães, e da Câmara, Michel Temer,
deu-se segunda-feira o discutível privilégio de servirem de enfeite de cenário para o show televisivo de unidade
dos Poderes em torno do ajuste fiscal.
Puderam até falar meia dúzia de trivialidades, já esquecidas.
Diz a mídia que o ministro Pedro
Malan teve a gentileza de avisar
ACM, com antecedência, das mudanças cambiais, o que é diferente de consultar. Consultar significaria que
ACM poderia discordar e, por extensão, propor alternativas.
Avisar significou que o único poder
dado ao supostamente todo-poderoso
ACM foi o de dizer "sim, senhor".
Se é assim com as cúpulas político-partidárias, para a base, então, o
tratamento é de rebanho. Deputados e
senadores governistas são tangidos ao
curral de votação, muitos sem saber
direito o significado pleno do que se
vai votar, e alimentados, em inúmeros
casos, com soro fisiológico.
Como partidos (e políticos, por extensão) são a instância privilegiada
de intermediação entre a sociedade e
o Estado, cria-se uma grave anomalia.
Dá-se ao Executivo (ou, pior ainda, a
um pequeno círculo de tecnoburocratas) não um mandato legitimado pelas urnas, mas um cheque em branco
para fazer o que bem entender, até o
contrário do que prometera.
FHC, por exemplo, foi eleito com
duas mensagens: a defesa do real e
acabar com o desemprego. Não pôde
defender o real, e o desemprego só faz
aumentar. Mas, pela desvalorização
também da política, não surgem propostas de caminhos alternativos.
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