São Paulo, quinta, 21 de janeiro de 1999

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Enfeites de cenário

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Responda rápido: quem é o presidente nacional do PFL? E do PSDB? Não sabe? Não tem a menor importância, como não estão tendo a menor importância, na crise em andamento, os presidentes desses dois partidos, embora sejam os principais da chamada base governista.
Vale idêntico raciocínio para os demais caciques políticos. Aos presidentes do Senado, Antonio Carlos Magalhães, e da Câmara, Michel Temer, deu-se segunda-feira o discutível privilégio de servirem de enfeite de cenário para o show televisivo de unidade dos Poderes em torno do ajuste fiscal.
Puderam até falar meia dúzia de trivialidades, já esquecidas.
Diz a mídia que o ministro Pedro Malan teve a gentileza de avisar ACM, com antecedência, das mudanças cambiais, o que é diferente de consultar. Consultar significaria que ACM poderia discordar e, por extensão, propor alternativas.
Avisar significou que o único poder dado ao supostamente todo-poderoso ACM foi o de dizer "sim, senhor".
Se é assim com as cúpulas político-partidárias, para a base, então, o tratamento é de rebanho. Deputados e senadores governistas são tangidos ao curral de votação, muitos sem saber direito o significado pleno do que se vai votar, e alimentados, em inúmeros casos, com soro fisiológico.
Como partidos (e políticos, por extensão) são a instância privilegiada de intermediação entre a sociedade e o Estado, cria-se uma grave anomalia. Dá-se ao Executivo (ou, pior ainda, a um pequeno círculo de tecnoburocratas) não um mandato legitimado pelas urnas, mas um cheque em branco para fazer o que bem entender, até o contrário do que prometera.
FHC, por exemplo, foi eleito com duas mensagens: a defesa do real e acabar com o desemprego. Não pôde defender o real, e o desemprego só faz aumentar. Mas, pela desvalorização também da política, não surgem propostas de caminhos alternativos.



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