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São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003

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INCERTEZA AMERICANA

Crescem os sinais de fragilização da economia dos EUA. Ontem mais dois indícios preocupantes foram divulgados. O déficit comercial do país alcançou US$ 44,2 bilhões em dezembro e fechou o ano de 2002 em US$ 435,2 bilhões -valores recordes para um único mês e para um ano. Ao lado disso, os preços por atacado tiveram alta inesperada e forte, subindo 1,6% em janeiro -a maior alta desde janeiro de 1990, muito maior do que a projetada pelo mercado (0,5%).
Alguns analistas tomaram a alta dos preços no atacado como sinal positivo, que indicaria que a demanda está se expandindo a um ritmo firme. Mas os dados relativos ao mercado de trabalho não corroboram essa visão, pois revelam que os pedidos de seguro-desemprego crescem, refletindo maiores demissões.
A aceleração da inflação pode ser não um sintoma de demanda aquecida, mas, sim, uma consequência do enfraquecimento do dólar, sobretudo ante o euro. E esse enfraquecimento do dólar -que tende a encarecer os produtos importados ou que competem com importados- é fruto, entre outros fatores, justamente do imenso déficit comercial dos EUA, que mantêm suas contas externas em posição cada vez mais frágil.
Desde o ano 2000, os EUA se vêem diante do desafio de administrar a reversão do ciclo de euforia na Bolsa de Valores. Até o momento, isso vem sendo feito com sacrifício bastante limitado da atividade econômica graças ao brusco aumento do déficit público e a cortes de juros muito agressivos. Mas o fôlego dessas iniciativas dá mostras de desgaste.
A alta combinada dos déficits público e externo não pode ser sustentada indefinidamente. A iminência da deflagração de um ataque ao Iraque, no entanto, dá a impressão de que o governo Bush não hesita em embarcar num esforço bélico que tende a agravar esses desequilíbrios.
Em paralelo, o clima de guerra e de indefinições ameaça abalar a já desgastada confiança dos consumidores e empresários norte-americanos. A estratégia econômica e bélica de Bush cria riscos crescentes de turbulência para a economia e as finanças.


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