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PRISÃO INOPORTUNA
Não poderia vir em hora mais
inoportuna a prisão do líder
empresarial venezuelano Carlos Fernández, presidente da Fedecámaras.
Oficialmente, Fernández foi detido
por iniciativa do Ministério Público e
com autorização da Justiça. Ele responde pelas acusações de traição e
incitação à violência devido a seu papel de líder na recém-encerrada greve
geral, que, por dois meses, paralisou
boa parte da economia venezuelana.
É difícil, contudo, acreditar que não
haja um dedo do governo no episódio. Outros dirigentes grevistas estão
com suas prisões decretadas.
A oposição ao presidente Hugo
Chávez, como era previsível, mobilizou-se contra o encarceramento de
Fernández, que classificou como
"ato terrorista". Ameaça convocar
uma nova paralisação. O recrudescimento das posições acontece num
momento em que as conversações
entre chavistas e antichavistas avançavam, ainda que lentamente. As
partes haviam acertado, numa negociação mediada pela Organização
dos Estados Americanos (OEA), um
pacto de não-violência.
Os chavistas até podem ter a lei do
seu lado. A oposição ao governo e a
Fedecámaras já mostraram seu caráter golpista e antidemocrático quando, em abril passado, tentaram depor Chávez pela força. Ainda assim,
é preciso considerar que o ambiente
político na Venezuela não é nada
bom. Chávez derrotou a oposição no
episódio da greve geral, que terminou sem obter a sua renúncia nem a
antecipação de eleições, mas o presidente está longe de viver uma situação confortável. Ainda tem contra si
parcela expressiva da população e todos os meios de comunicação.
Não são adversários que possam
ser simplesmente suprimidos. Mais
cedo ou mais tarde, Chávez precisará
sentar-se com seus opositores e negociar. É o caminho menos traumático para a Venezuela. Para que possa
ser trilhado, ambos os lados precisam aparar suas diferenças e aceitar a
outra parte como legítima. Não é hora, portanto, de radicalizar.
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