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São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003

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PRISÃO INOPORTUNA

Não poderia vir em hora mais inoportuna a prisão do líder empresarial venezuelano Carlos Fernández, presidente da Fedecámaras. Oficialmente, Fernández foi detido por iniciativa do Ministério Público e com autorização da Justiça. Ele responde pelas acusações de traição e incitação à violência devido a seu papel de líder na recém-encerrada greve geral, que, por dois meses, paralisou boa parte da economia venezuelana. É difícil, contudo, acreditar que não haja um dedo do governo no episódio. Outros dirigentes grevistas estão com suas prisões decretadas.
A oposição ao presidente Hugo Chávez, como era previsível, mobilizou-se contra o encarceramento de Fernández, que classificou como "ato terrorista". Ameaça convocar uma nova paralisação. O recrudescimento das posições acontece num momento em que as conversações entre chavistas e antichavistas avançavam, ainda que lentamente. As partes haviam acertado, numa negociação mediada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), um pacto de não-violência.
Os chavistas até podem ter a lei do seu lado. A oposição ao governo e a Fedecámaras já mostraram seu caráter golpista e antidemocrático quando, em abril passado, tentaram depor Chávez pela força. Ainda assim, é preciso considerar que o ambiente político na Venezuela não é nada bom. Chávez derrotou a oposição no episódio da greve geral, que terminou sem obter a sua renúncia nem a antecipação de eleições, mas o presidente está longe de viver uma situação confortável. Ainda tem contra si parcela expressiva da população e todos os meios de comunicação.
Não são adversários que possam ser simplesmente suprimidos. Mais cedo ou mais tarde, Chávez precisará sentar-se com seus opositores e negociar. É o caminho menos traumático para a Venezuela. Para que possa ser trilhado, ambos os lados precisam aparar suas diferenças e aceitar a outra parte como legítima. Não é hora, portanto, de radicalizar.


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