São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Um novo jeito de fazer política
JOÃO MELLÃO NETO
Geraldo Alckmin tem sido diferente. Trabalhamos juntos há pouco mais de um mês. Jamais o vi erguer a voz ou proferir alguma frase de efeito. Ele dialoga com a sua equipe de igual para igual e nem por isso abre mão de sua autoridade. Ela prevalece na forma de argumentos lúcidos e bem fundamentados. E Alckmin tem a rara humildade de rever os seus conceitos quando se vê diante de idéias melhores do que as suas. Ele só não abre mão de seus princípios basilares e também de seu objetivo, quase obsessivo, de realizar um excelente governo. Um mês e meio de convivência é um prazo bastante exíguo para formar uma opinião definitiva. Fui checar minhas primeiras impressões com aqueles que o acompanham desde que, no início de 2001, assumiu o governo com o falecimento de Mário Covas. Ele sempre foi assim. Desde muitos anos, quando comandou a Prefeitura de Pindamonhangaba. Calmo, ponderado, humilde, mas também profundamente objetivo e obstinado quanto àquilo que deseja alcançar. Tem uma sede obsessiva por informações, números, dados e comparativos. Não se furta a trabalhar à noite e nos fins de semana. Incomoda-o bastante não ter a informação exata sobre cada problema de sua gestão. Tampouco perdoa aos auxiliares que não a têm à mão quando solicitados. Que ninguém espere dele declarações bombásticas, manifestações voluntaristas ou mesmo frases de efeito. O grande teste de sua fleuma foi a campanha eleitoral. E, mesmo nesta, no fragor dos embates, ele permaneceu o mesmo. Jamais levantou a voz, nunca se deixou seduzir pela tentação de fazer promessas ou emitir juízos enfáticos. Não atacou ou mesmo respondeu aos seus adversários. Ateve-se a falar de suas realizações e de como pretendia aperfeiçoá-las caso obtivesse um novo mandato. Surpreendentemente, com um discurso exclusivamente racional, logrou eleger-se, batendo o histórico malufismo no primeiro turno e a irresistível onda petista no segundo. Uma vez empossado, Geraldo Alckmin tem como objetivo tão-somente manter-se como sempre foi. Embora médico por formação, tem um talento inato para a administração. Mesmo seus mais ferrenhos adversários concordam que ele vem realizando uma excelente gestão, com finanças saneadas, metas bem definidas e um longo rol de realizações para credenciá-lo. Sou suspeito para enaltecê-lo. Afinal, sou membro de sua equipe. Mas não escondo a minha satisfação por fazer parte de um governo que se tem mostrado tão eficiente ao longo do tempo. E que, sem nunca ter resvalado na demagogia e no populismo, mesmo assim, obteve um consagrador aval da população nas urnas. Geraldo Alckmin, mesmo sem o saber, inaugurou um novo e inédito jeito de fazer política. Oxalá o seu exemplo se multiplique pelo Brasil. João Mellão Neto, 47, jornalista, é secretário da Comunicação do Estado de São Paulo. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Joaquim Falcão: A reforma silenciosa da Justiça Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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