São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO RODRIGUES

Idéia de jerico

BRASÍLIA - A administração Lula enfrenta sua pior crise. Os indicadores financeiros se deterioram. O Congresso parou. O que poderia ficar pior? O governo alterar as regras políticas aprovando um texto que está parado na Câmara. Será um retrocesso descomunal.
A idéia está na cabeça de alguns governistas. Querem tirar o foco do Waldogate. Acham que amadureceu o cenário para aprovar mudanças no sistema apodrecido de representação parlamentar. Acertam no diagnóstico. Erram no remédio.
A lei atual é melhor do que a alteração proposta. Já contém uma cláusula de barreira contra partidos nanicos e oportunistas -uma das pragas do Egito na política brasileira. A sigla que não obtiver 5% dos votos para deputado federal em todo o país em 2006 ficará à míngua: quase sem TV, sem salas e pencas de assessores no Congresso e só com algumas migalhas do fundo partidário, um butim perto de R$ 100 milhões.
A tal reforma (sic) política que alguns governistas pretendem aprovar reduz a cláusula de barreira para 2%. Resultado, quase todos os 27 partidos atuais continuarão a funcionar num democratismo de meia pataca. Por que Prona e outras excrescências precisam de salas para líderes no Congresso e tempo de TV?
Isso não é tudo. Pela reforma (sic) em debate, os partidos passam a ter financiamento eleitoral público. Cerca de R$ 800 milhões por eleição. A compensação, dizem, é que a votação será nas listas de candidatos, e não mais em nomes individuais.
Detalhe: no primeiro ano de vigência dessa mudança, as listas serão encabeçadas pelos atuais deputados e senadores. Como se sabe, Papai Noel existe e na eleição seguinte os congressistas aceitarão, felizes, disputar lugar nessas listas em convenções partidárias democráticas.
Detalhe final: o relator da reforma (sic) política é o deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO). Sim, ele mesmo, o grande precursor da UDR e candidato derrotado a presidente em 1989.


Texto Anterior: São Paulo - Marcos Augusto Gonçalves: Impostura
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A verdade acima de tudo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.