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FERNANDO RODRIGUES
Idéia de jerico
BRASÍLIA - A administração Lula enfrenta sua pior crise. Os indicadores financeiros se deterioram. O Congresso parou. O que poderia ficar
pior? O governo alterar as regras políticas aprovando um texto que está
parado na Câmara. Será um retrocesso descomunal.
A idéia está na cabeça de alguns governistas. Querem tirar o foco do
Waldogate. Acham que amadureceu
o cenário para aprovar mudanças no
sistema apodrecido de representação
parlamentar. Acertam no diagnóstico. Erram no remédio.
A lei atual é melhor do que a alteração proposta. Já contém uma cláusula de barreira contra partidos nanicos e oportunistas -uma das pragas
do Egito na política brasileira. A sigla
que não obtiver 5% dos votos para
deputado federal em todo o país em
2006 ficará à míngua: quase sem TV,
sem salas e pencas de assessores no
Congresso e só com algumas migalhas do fundo partidário, um butim
perto de R$ 100 milhões.
A tal reforma (sic) política que alguns governistas pretendem aprovar
reduz a cláusula de barreira para
2%. Resultado, quase todos os 27 partidos atuais continuarão a funcionar
num democratismo de meia pataca.
Por que Prona e outras excrescências
precisam de salas para líderes no
Congresso e tempo de TV?
Isso não é tudo. Pela reforma (sic)
em debate, os partidos passam a ter
financiamento eleitoral público. Cerca de R$ 800 milhões por eleição. A
compensação, dizem, é que a votação
será nas listas de candidatos, e não
mais em nomes individuais.
Detalhe: no primeiro ano de vigência dessa mudança, as listas serão encabeçadas pelos atuais deputados e
senadores. Como se sabe, Papai Noel
existe e na eleição seguinte os congressistas aceitarão, felizes, disputar
lugar nessas listas em convenções
partidárias democráticas.
Detalhe final: o relator da reforma
(sic) política é o deputado Ronaldo
Caiado (PFL-GO). Sim, ele mesmo, o
grande precursor da UDR e candidato derrotado a presidente em 1989.
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