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Boa oportunidade
Se formulado de modo criterioso, projeto de transformar o Brasil em centro financeiro poderá ser benéfico para o país
ESTÁ EM ANDAMENTO um
projeto ambicioso, conduzido por associações
do mercado de capitais,
com o intuito de transformar o
Brasil num centro financeiro de
dimensão global.
Ainda não são conhecidos os
detalhes da proposta, mas o objetivo é fazer do país uma plataforma, na América Latina, de negociação de ações e outros produtos financeiros. Seria a confirmação de uma vocação que vem ganhando vigor nos últimos anos.
O Brasil apresenta nessa área
algumas vantagens em relação a
outros países em desenvolvimento. A China, por exemplo,
tem interesse em fazer algo análogo com Xangai. Mas apesar do
dinamismo de sua economia,
ainda há muitos obstáculos a superar, como as restrições ao movimento de capital -uma vez
que a maior parte do crédito é
controlada pelo Estado.
Talvez até como legado de sua
história de instabilidade econômica, o Brasil conseguiu moldar
um sistema financeiro forte e
bem regulado. De modo geral, o
mercado de capitais é amplo e líquido, o que contribui para que a
intermediação financeira e a alocação de recursos ocorram de
forma eficiente no país.
No passado, a regulação era
apontada como um empecilho
pela comunidade financeira internacional, mas após a crise financeira a percepção mudou -e
o Brasil, nesse quesito, tornou-se
referência. Essa parece ser a
oportunidade: vender no exterior a ideia de um centro financeiro de nova geração, com a vigência de normas criteriosas.
Entre as vantagens claras que
essa realidade traria para o Brasil
estão o aprofundamento da liderança na América Latina -que
teria no país uma espécie de portal para acesso financeiro ao resto do mundo- e a oferta de capital a custos menores para as empresas nacionais, que seriam favorecidas em seus projetos de
expansão internacional.
O sucesso da iniciativa dependerá de coordenação com o governo, pois as mudanças afetariam praticamente todo o sistema financeiro doméstico. Modificações na regulação serão necessárias e certamente despertarão controvérsias. É o caso da
maior abertura ao fluxo global de
capitais, que poderia, por exemplo, exacerbar as oscilações da
taxa de câmbio.
Outro possível risco seria o endividamento excessivo de empresas e consumidores, decorrente do acesso a recursos mais
baratos. Em tese, a própria regulação poderia evitar o excesso de
alavancagem, mas talvez não fosse capaz de impedir que grandes
variações nos movimentos de capitais gerassem efeitos danosos
sobre a estrutura produtiva.
São problemas importantes,
mas não insolúveis. Ainda é cedo
para opiniões definitivas, mas, a
depender de como o projeto venha a ser concebido, os benefícios para o Brasil poderão ser relevantes. Resta esperar que os
estudos sejam concluídos e que
venham a público para o debate.
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