São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010

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Boa oportunidade

Se formulado de modo criterioso, projeto de transformar o Brasil em centro financeiro poderá ser benéfico para o país

ESTÁ EM ANDAMENTO um projeto ambicioso, conduzido por associações do mercado de capitais, com o intuito de transformar o Brasil num centro financeiro de dimensão global.
Ainda não são conhecidos os detalhes da proposta, mas o objetivo é fazer do país uma plataforma, na América Latina, de negociação de ações e outros produtos financeiros. Seria a confirmação de uma vocação que vem ganhando vigor nos últimos anos.
O Brasil apresenta nessa área algumas vantagens em relação a outros países em desenvolvimento. A China, por exemplo, tem interesse em fazer algo análogo com Xangai. Mas apesar do dinamismo de sua economia, ainda há muitos obstáculos a superar, como as restrições ao movimento de capital -uma vez que a maior parte do crédito é controlada pelo Estado.
Talvez até como legado de sua história de instabilidade econômica, o Brasil conseguiu moldar um sistema financeiro forte e bem regulado. De modo geral, o mercado de capitais é amplo e líquido, o que contribui para que a intermediação financeira e a alocação de recursos ocorram de forma eficiente no país.
No passado, a regulação era apontada como um empecilho pela comunidade financeira internacional, mas após a crise financeira a percepção mudou -e o Brasil, nesse quesito, tornou-se referência. Essa parece ser a oportunidade: vender no exterior a ideia de um centro financeiro de nova geração, com a vigência de normas criteriosas.
Entre as vantagens claras que essa realidade traria para o Brasil estão o aprofundamento da liderança na América Latina -que teria no país uma espécie de portal para acesso financeiro ao resto do mundo- e a oferta de capital a custos menores para as empresas nacionais, que seriam favorecidas em seus projetos de expansão internacional.
O sucesso da iniciativa dependerá de coordenação com o governo, pois as mudanças afetariam praticamente todo o sistema financeiro doméstico. Modificações na regulação serão necessárias e certamente despertarão controvérsias. É o caso da maior abertura ao fluxo global de capitais, que poderia, por exemplo, exacerbar as oscilações da taxa de câmbio.
Outro possível risco seria o endividamento excessivo de empresas e consumidores, decorrente do acesso a recursos mais baratos. Em tese, a própria regulação poderia evitar o excesso de alavancagem, mas talvez não fosse capaz de impedir que grandes variações nos movimentos de capitais gerassem efeitos danosos sobre a estrutura produtiva.
São problemas importantes, mas não insolúveis. Ainda é cedo para opiniões definitivas, mas, a depender de como o projeto venha a ser concebido, os benefícios para o Brasil poderão ser relevantes. Resta esperar que os estudos sejam concluídos e que venham a público para o debate.


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