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Marta e Erundina
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Apesar de parecer um cenário artificial, além de precoce, é
uma delícia imaginar a elite conservadora paulistana se debatendo sobre o
que é menos pior no segundo turno:
cair nos braços de Marta e de seu PT
ou de Erundina devidamente "endireitada".
Marta veio da elite, de pai, mãe e
marido. Tem a cara da elite e se declara "cosmopolita". Mas é do PT, o mais
forte partido da esquerda, voltado para a periferia. A elite pode até assimilar Marta, mas é difícil assimilar o PT.
Erundina diz-se mulher, pobre e de
esquerda. Mas é do PSB, mais aberto a
conversas com outros partidos e forças
políticas ao centro. Ontem mesmo, recebeu a adesão do PPS. Parte do
PMDB topa, o PSDB está à espreita. A
elite pode até admitir essa composição, mas é difícil admitir Erundina.
Marta nunca governou nada. Não
tem experiência administrativa, como
insistem seus adversários. É um ponto
fraco. Erundina foi a primeira prefeita
da principal capital do país. Tem experiência administrativa, mas sua
gestão amargou altos índices de desaprovação. É também um ponto fraco.
No discurso político, Marta e Erundina tiveram uma reação semelhante
à de todo mundo à pesquisa Datafolha sobre o efeito Nicéa: ambas acham
que a transferência direta de intenções
de voto de Maluf para Erundina ainda é um fenômeno e, como tal, mal-explicado e frágil. Do mesmo jeito que
veio, pode simplesmente ir.
É cedo, portanto, para conclusões. A
pesquisa reflete um primeiro momento, depois deve vir a reaglutinação das
chamadas "forças conservadoras" e,
finalmente, a eleição. A elite passa o
dia tentando saber o que é exatamente a candidatura Romeu Tuma (PFL)
e vai dormir sonhando com alguém
que possa surgir do nada e herdar o
poderoso voto malufista na capital.
Mas, como foi dito no início, isso não
elimina o grande prazer de imaginar
Marta e Erundina no segundo turno.
"Seria fantástico", disse Erundina.
Concordo em número e grau. Ah. Em
gênero, também.
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