São Paulo, terça-feira, 21 de março de 2000


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Marta e Erundina

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Apesar de parecer um cenário artificial, além de precoce, é uma delícia imaginar a elite conservadora paulistana se debatendo sobre o que é menos pior no segundo turno: cair nos braços de Marta e de seu PT ou de Erundina devidamente "endireitada".
Marta veio da elite, de pai, mãe e marido. Tem a cara da elite e se declara "cosmopolita". Mas é do PT, o mais forte partido da esquerda, voltado para a periferia. A elite pode até assimilar Marta, mas é difícil assimilar o PT.
Erundina diz-se mulher, pobre e de esquerda. Mas é do PSB, mais aberto a conversas com outros partidos e forças políticas ao centro. Ontem mesmo, recebeu a adesão do PPS. Parte do PMDB topa, o PSDB está à espreita. A elite pode até admitir essa composição, mas é difícil admitir Erundina.
Marta nunca governou nada. Não tem experiência administrativa, como insistem seus adversários. É um ponto fraco. Erundina foi a primeira prefeita da principal capital do país. Tem experiência administrativa, mas sua gestão amargou altos índices de desaprovação. É também um ponto fraco.
No discurso político, Marta e Erundina tiveram uma reação semelhante à de todo mundo à pesquisa Datafolha sobre o efeito Nicéa: ambas acham que a transferência direta de intenções de voto de Maluf para Erundina ainda é um fenômeno e, como tal, mal-explicado e frágil. Do mesmo jeito que veio, pode simplesmente ir.
É cedo, portanto, para conclusões. A pesquisa reflete um primeiro momento, depois deve vir a reaglutinação das chamadas "forças conservadoras" e, finalmente, a eleição. A elite passa o dia tentando saber o que é exatamente a candidatura Romeu Tuma (PFL) e vai dormir sonhando com alguém que possa surgir do nada e herdar o poderoso voto malufista na capital.
Mas, como foi dito no início, isso não elimina o grande prazer de imaginar Marta e Erundina no segundo turno. "Seria fantástico", disse Erundina. Concordo em número e grau. Ah. Em gênero, também.


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