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O herdeiro dos órfãos
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - A sete meses da sucessão na prefeitura paulistana, não
creio que o páreo esteja reduzido a
duas madamas, ambas filiadas a partidos ditos de esquerda. O eleitorado
não é ideológico. Em certo sentido é fisiológico mesmo, mas não creio que isso seja pejorativo. O homem é um produto da fisiologia.
Pergunta: quem se preocupa com
ideologia num país onde 120 milhões
de habitantes servem de cenário e
massa de manobra para os 30 milhões
que têm acesso a mais de 20 salários
mínimos?
Resposta: uma franja desses 30 milhões, nem metade talvez. São estudantes de segundo grau para cima,
profissionais disso ou daquilo, empresários e -sobretudo- intelectuais:
professores, jornalistas, escritores, artistas de vários tamanhos e feitios.
O fato de Erundina ter crescido nas
pesquisas, por conta do desmoronamento do esquema Maluf-Pitta, não
tem explicação ideológica -nem era
para ter. E se tivesse?
Ideologicamente, o quadro seria idílico: duas candidatas de esquerda disputando o poder. A direita encafuada,
recolhendo os escombros de suas prevaricações. São Paulo teria chegado à
idade de ouro cantada por Ovídio:
""Materiam superabat opus".
A verdade é e será outra. Os órfãos
do esquema acima citado não estão
nem aí para esse negócio de esquerda
ou direita. Em princípio, continuarão
órfãos até que apareça no horizonte
um candidato afim -e não se deve esquecer de que, entre outros, existe um
candidato mais do que afim na sucessão paulista, que atende pelo nome de
Fernando Collor de Mello.
Vencidas as batalhas judiciais, concretizada a sua candidatura, ele aproveitará o inesperado espaço que se
abriu para o tipo de política que representa e exerce. Ora, direis, isso é pessimismo demais. Concordo. Mas já estou habituado.
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