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GUERRA ESTÚPIDA Se toda guerra carrega o estigma da brutalidade, o presente
conflito no Iraque recebe ainda a
marca da arrogância. O presidente
George W. Bush engaja-se em batalha contra o Iraque de Saddam Hussein sem um mandato da ONU, com
uma coalizão militar reduzida e sob
protestos generalizados.
Em sua obstinação por lançar-se
em armas, Bush abalou as estruturas
do sistema de segurança internacional, indispôs-se com antigos e fiéis
aliados e despertou o sentimento anti-EUA em lugares onde havia muito
ele estava adormecido ou nem existia. Entre as primeiras vítimas desta
guerra insensata contam-se a ONU,
a Otan (aliança militar ocidental), a
coalizão antiterror, a imagem dos
EUA e a própria noção de que a humanidade progride, avançando na
estruturação de um mundo melhor.
Por alguma razão oculta, Bush parece acreditar na idéia extravagante
de que, jogando uma quantidade
avassaladora de bombas que inevitavelmente atingirão a população civil,
matando inocentes, ajudará a fundar
um Iraque democrático. E, para ter a
oportunidade de demonstrar essa tese estapafúrdia, não hesitou em falsificar pretextos para a guerra e romper com a maior parte da comunidade internacional.
Ainda que a operação militar para
depor o ditador iraquiano venha a ser
rápida e provoque um número não
superlativo de vítimas, o preço político pago até aqui já é elevado o suficiente para classificar toda a campanha como uma aventura temerária.
Não se pretende negar que Saddam
Hussein seja um dos mais sanguinários tiranos em atividade no planeta.
Trata-se apenas de afirmar o óbvio: a
guerra, que inevitavelmente sacrifica
vidas e produz sofrimento generalizado, não é um recurso ordinário,
que possa ser usado contra qualquer
ditador que tenha desavenças com
Washington. A aplicação metódica
da Doutrina Bush lançaria o mundo
num estado de guerra permanente
pelo menos tão nocivo quanto as tiranias que promete eliminar.
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