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ÂNCORA SALARIAL
Mais um levantamento retrata
as perdas de renda que os trabalhadores brasileiros vêm sofrendo
nos últimos anos. Como noticiou
ontem esta Folha, 45% dos acordos
salariais firmados em 2002 não propiciaram aos trabalhadores a reposição da perda de poder de compra
provocada pela alta dos preços ao
consumidor, de acordo com estudo
realizado pelo Dieese.
Tendo em vista o salto da inflação e
a elevação do desemprego, não surpreende que o resultado das negociações tenha sido mais adverso para os
assalariados do que nos anos anteriores. Mas não foi apenas em 2002
que uma proporção grande dos dissídios determinou reajustes inferiores à alta do INPC observada nos 12
meses anteriores. Desde que o Dieese começou a realizar esse acompanhamento, em 1996, a cada ano pelo
menos um terço das categorias não
obteve essa reposição.
Enquanto a inflação esteve em queda e o desemprego era mais baixo,
esses resultados não chegaram a prejudicar a capacidade de consumo dos
trabalhadores. De fato, nos primeiros anos do Real o rendimento dos
trabalhadores ocupados nas maiores
regiões metropolitanas manteve-se
em alta, segundo o IBGE.
No entanto, desde que o país adotou o regime de câmbio flutuante, no
início de 1999, a tendência do rendimento real médio tem sido de queda.
Pode-se afirmar que, abandonada a
chamada "âncora cambial", os salários e demais rendimentos do trabalho assumiram o papel de principal
"âncora" da estabilização. Isso porque a redução dos custos salariais
tem facilitado às empresas acomodar as pressões sobre sua rentabilidade advindas de outros custos (com
evidente destaque para o dólar).
As negociações salariais prometem
ser difíceis em 2003. Como a inflação
subiu bastante, pela primeira vez
desde 1994 os sindicatos deverão
pleitear reajustes superiores a 10%
-sob o argumento, compreensível,
de que não desejam retomar mecanismos de indexação, mas tampouco desejam incorrer em perdas adicionais de poder de compra.
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