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São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2003

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ÂNCORA SALARIAL

Mais um levantamento retrata as perdas de renda que os trabalhadores brasileiros vêm sofrendo nos últimos anos. Como noticiou ontem esta Folha, 45% dos acordos salariais firmados em 2002 não propiciaram aos trabalhadores a reposição da perda de poder de compra provocada pela alta dos preços ao consumidor, de acordo com estudo realizado pelo Dieese.
Tendo em vista o salto da inflação e a elevação do desemprego, não surpreende que o resultado das negociações tenha sido mais adverso para os assalariados do que nos anos anteriores. Mas não foi apenas em 2002 que uma proporção grande dos dissídios determinou reajustes inferiores à alta do INPC observada nos 12 meses anteriores. Desde que o Dieese começou a realizar esse acompanhamento, em 1996, a cada ano pelo menos um terço das categorias não obteve essa reposição.
Enquanto a inflação esteve em queda e o desemprego era mais baixo, esses resultados não chegaram a prejudicar a capacidade de consumo dos trabalhadores. De fato, nos primeiros anos do Real o rendimento dos trabalhadores ocupados nas maiores regiões metropolitanas manteve-se em alta, segundo o IBGE.
No entanto, desde que o país adotou o regime de câmbio flutuante, no início de 1999, a tendência do rendimento real médio tem sido de queda. Pode-se afirmar que, abandonada a chamada "âncora cambial", os salários e demais rendimentos do trabalho assumiram o papel de principal "âncora" da estabilização. Isso porque a redução dos custos salariais tem facilitado às empresas acomodar as pressões sobre sua rentabilidade advindas de outros custos (com evidente destaque para o dólar).
As negociações salariais prometem ser difíceis em 2003. Como a inflação subiu bastante, pela primeira vez desde 1994 os sindicatos deverão pleitear reajustes superiores a 10% -sob o argumento, compreensível, de que não desejam retomar mecanismos de indexação, mas tampouco desejam incorrer em perdas adicionais de poder de compra.


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