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RUY CASTRO
Peçonha humana
RIO DE JANEIRO - Uma plêiade
de animais peçonhentos -cobras,
escorpiões e lacraias- reuniu-se
neste fim de semana às margens
de um brejo para deliberar sobre fatos que ocuparam o noticiário nos
últimos dias. Peçonha, como se sabe, significa veneno. Esses animais
são considerados agressivos, traiçoeiros e letais, embora usem o veneno apenas para se defender ou se
alimentar.
Na reunião, eles trataram do caso
do cirurgião plástico de São Paulo
que, dizendo-se assediado pela ex-namorada, matou e esquartejou a
mulher com requintes profissionais, usando bisturis e pinças, e depois ocultando e destruindo o cadáver. Houve comoção geral quando
uma lacraia, aos prantos, descreveu
o médico retirando a pele do rosto,
dos seios e das pontas dos dedos da
vítima para dificultar sua identificação pela polícia.
Outra história referia-se ao rapaz
de Caxias (RJ) que, inconformado
com o fim de seu relacionamento
com a namorada, tomou uma espada ninja de sua coleção e, com ela,
simplesmente decepou o braço direito da moça. A infeliz foi levada
em estado grave para o hospital
Souza Aguiar, no Rio, mas o braço
não pôde ser reimplantado.
E, naturalmente, o grande assunto do encontro foi a tragédia da menina Isabella, em São Paulo, espancada, asfixiada e atirada ainda viva
do 6º andar por, tudo indica, seu pai
e sua madrasta. Chocante. Mas o
que também deprimiu os animais
foi o histórico de violência desse casal contra os filhos mais novos e
contra a própria Isabella, a ameaça
de morte à avó da criança por motivo fútil, as brigas por ciúme doentio, a vida num inferno.
Os animais peçonhentos estão
assustados. O planeta que habitam
parece cada vez mais hostil e perigoso pela presença desses seres
-esses, sim, agressivos, traiçoeiros
e letais- ditos humanos.
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