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RUY CASTRO
O problema do onde
RIO DE JANEIRO - Um dos problemas dos garotos em 1968, além
da ditadura militar, do acordo
MEC-Usaid e da Guerra do Vietnã,
era namorar. Não que faltasse com
quem. O problema era onde.
Namorar era um eufemismo para
transar, verbo que começava a aparecer com esse sentido. A pílula já
era uma realidade e, naquele ano,
no Rio, pelo menos em certos círculos, a virgindade feminina se tornara um tabu ao contrário: uma garota que chegasse virgem aos 19
anos ficava rubra ao admitir isso
para as colegas.
Os rapazes estavam sempre dispostos a ir para o sacrifício. Mas onde? Os motéis ainda não existiam,
os poucos hotéis para encontros ficavam na longínqua São Conrado e
quase ninguém tinha carro. No desespero, ia-se para a praia à noite,
principalmente a do Leblon, então
escura e deserta. O risco era o achaque dos Cosme e Damião.
Mais seguras eram as garçonnières dos amigos. Garçonnières eram
quarto-e-salas mantidos por homens casados para suas piruetas
extraconjugais. Como não as usavam todo dia, às vezes emprestavam-nas por algumas horas aos
amigos. Uma delas, na rua Paula
Freitas, em Copacabana -não me
lembro do proprietário-, sairia nos
jornais em 1970 ou 1971 ao "cair"
como "aparelho" do grupo terrorista VPR. É possível que, em 1968, já
fosse um "aparelho", só que também usado, como disfarce, para fins
imorais. Que perigo.
Nesses 40 anos, houve três revoluções sexuais e uma brutal expansão imobiliária, mas o problema do
onde continua. Em função disso, alguém em São Paulo está propondo
a liberação de trechos do parque
Ibirapuera para sexo a céu aberto.
É a falsa boa idéia. Todo exibicionismo é bobo, e ainda mais quando
permitido. Sexo é ótimo, mas,
quando envolve transgressão e risco, é muito melhor.
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