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TENDÊNCIAS/DEBATES
Somos todos responsáveis
JORGE WERTHEIN
Várias investigações mostram que a intimidação, ou "bullying", não é o fenômeno mais grave que acontece no espaço escolar
O CONCEITO de violência, assim
como o tema das violências
nas escolas, tem sido muito
discutido. Apesar das concepções e
visões do fenômeno, várias investigações demonstram que a intimidação
-o "bullying", como tem sido chamado- não é o fenômeno mais grave que
acontece no espaço escolar.
Além da violência física e verbal,
em todas as investigações feitas em
vários países se destacam as agressões verbais entre alunos, bem como
ameaças, agressões físicas, discriminação racial e sexista, roubos, violência sexual, presença de gangues e tráfico de drogas. A relação entre aluno e
professor é, muitas vezes, tensa, passando por violência verbal, ameaças e
discriminação por ambas as partes.
A violência na escola é um fenômeno gritante, já que tem enorme potencial de desorganizar o processo de ensino e aprendizagem e desestabilizar
a relação entre os atores que convivem com ela. Isso vem tornando inviável o cumprimento do papel social
da escola: formar -no sentido amplo- crianças, adolescentes e jovens.
A escola, nesse caso, pode apresentar
restrições e obstáculos para a aprendizagem satisfatória, tal como um
ambiente hostil.
Uma das melhores respostas às violências nas escolas é a ativa participação das autoridades do setor educativo, com pais e sociedade civil, e com
interesse e apoio, que espero ser sistemático, dos meios de comunicação.
O tema está presente no cotidiano
de todos. Estamos identificando com
mais precisão e interesse situações de
conflito que se transformam em violências, sejam físicas, verbais ou simbólicas. O uso do plural, "violências",
demonstra que estamos falando de
vários tipos de violência e em distintos níveis.
As situações mencionadas existem
há tempos, ainda que talvez não tão
visíveis quanto agora. Esse aumento
da visibilidade das violências nas escolas está permitindo identificar e
tratar de enfrentar o problema e buscar respostas adequadas.
É desnecessário e ineficiente começar uma caça ao culpado dessas
violências alarmantes. Em geral, a família acusa a escola e vice-versa,
transferindo a responsabilidade de
uma para a outra. As duas instituições
deveriam ter o papel de cooperar entre si, já que a educação pretende formar para a cidadania, a convivência,
os valores e os princípios éticos.
É importante, sim, realizar diagnósticos e propor estratégias de intervenção. É necessário conseguir que
seja aceita a corresponsabilidade que
todos temos -pais, mestres, educadores, alunos, autoridades em geral,
meios de comunicação e informação- não só no aumento inaceitável
dos níveis de violência mas também
na rápida e eficaz resposta para sua
drástica redução.
Lamentavelmente, muitas vezes no
cotidiano, comprovamos que, ante
uma situação de conflito, a violência é
uma resposta mais generalizada que o
diálogo. Todos, alunos, pais e cidadãos em geral, somos testemunhas da
falta de maturidade, da incivilidade,
da falta de respeito à diversidade, da
falta de aceitação do outro. Na escola,
no trânsito, nos esportes, nos negócios e na política, temos exemplos
constantes da contestação da autoridade, do abuso, da arbitrariedade.
A violência em geral e as violências
nas escolas, em particular, são um fenômeno que todas as sociedades, desenvolvidas ou em desenvolvimento,
enfrentam. Porém, essas violências
estão mais presentes nas sociedade
mais desiguais, mais excludentes,
menos maduras, menos éticas, mais
arbitrárias. Reduzir a violência implica reduzir as desigualdades, a exclusão sistemática, as arbitrariedades.
Como já expressei: "A resposta para
a violência não deve ser somente repressora. Não há dúvida de que as
condutas inaceitáveis devem ser devidamente punidas e deve haver limites, mas as respostas não devem se limitar à expulsão de alunos, como se,
ao expulsá-los, estivéssemos também
expulsando os conflitos inerentes aos
estabelecimentos educativos. Não devemos usar mecanismos aparentemente rápidos para enfrentar problemas que são profundos, que merecem
ser analisados, diagnosticados e enfrentados de forma decidida".
Continuo afirmando o mesmo! Entender os porquês das violências, admitir que não são aceitáveis, bem como que impedem o ensino e a aprendizagem, incluir essa problemática
nos cursos de formação dos docentes,
implementar em todas as escolas programas de mediação escolar que, entre outras coisas, promovam o diálogo
entre os principais atores do processo
educativo e trazer os pais para um
diálogo sistemático com a escola são
iniciativas que darão certo.
JORGE WERTHEIN, 66, sociólogo argentino, mestre em
comunicação e doutor em educação pela Universidade
Stanford (EUA), é diretor-executivo da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana). Foi representante da Unesco no Brasil (1997 a 2005) e assessor especial do secretário-geral da OEI (Organização dos Estados
Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura)
de 2005 a 2006.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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