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Nunca antes neste país os museus...
JOSÉ DO NASCIMENTO JÚNIOR
Os museus são ferramentas para todas as classes sociais, instrumentos
de mudança social e desenvolvimento
"Os conservadores são pessimistas
quanto ao futuro e otimistas quanto ao
passado" (Lewis Mumford)
NUNCA ANTES neste país os
museus foram tão discutidos.
O espaço que o tema dos museus vem ocupando está refletindo
positivamente para que as políticas
culturais se aproximem mais do universo museal.
Atualmente, existem cerca de 60
mil museus em todo o mundo, dos
quais 90% criados após a Segunda
Guerra Mundial. Fazer uma reflexão
sobre o papel dessas instituições é de
fundamental importância e deve ser
uma preocupação permanente.
Para que a sociedade se aproprie de
suas múltiplas possibilidades, os museus aprofundam suas ações de comunicação, educação e pesquisa, que,
por sua vez, possibilitam o desenvolvimento de novas ações de caráter inclusivo. Isso torna a instituição museu uma das mais complexas criadas
pelo ser humano, com diversas expressões em mais de uma centena de
países.
No Brasil, são cerca de 3.000 museus, que representam 5% dos museus do mundo. Por essa razão, tal como em outros países, a realidade museológica brasileira tem que ser pensada e repensada a todo momento.
Nossa diversidade museal tem relação direta com o tema do Ano Ibero-Americano de Museus, que comemoramos em 2008. O tema, que foi também adotado para as comemorações
do Dia Internacional dos Museus, 18
de maio, é "Museus como agentes de
mudança social e desenvolvimento".
Olhando para esse cenário após
cinco anos do lançamento da Política
Nacional de Museus pelo ministro
Gilberto Gil, podemos ver os resultados já alcançados: a criação do Sistema Brasileiro de Museus; a Semana
de Museus, que vai para a sexta edição, com mais de 1.500 eventos em todo o país; o aumento da visitação, de
14 milhões, em 2003, para 21 milhões,
em 2007; a ampliação dos investimentos, de R$ 24 milhões para R$ 140
milhões; a capacitação de mais 20 mil
profissionais nesses cinco anos; e a
ampliação da oferta de cursos de graduação em museologia, de dois para
oito, em diversas regiões brasileiras.
A Política Nacional de Museus tem
o reconhecimento internacional, servindo até mesmo de modelo para outros países.
Esses números mostram que o Estado deve assumir a coordenação de
suas políticas públicas e ser gestor, indutor e regulador, diferentemente da
receita neoliberal do Estado mínimo.
O Congresso nunca atuou tanto em
relação aos museus como nos últimos
cinco anos, a exemplo da proposta de
criação do Estatuto de Museus e dos
mais de dez projetos de lei que tramitam na Câmara e no Senado.
A Política Nacional de Museus tem
em sua gênese um caráter democrático e participativo, rompendo com a
lógica de barões e vassalos, ampliando
os interlocutores, e continua recebendo diversas contribuições que
chegam de toda a parte para aperfeiçoar esse processo colocado em marcha ao longo desses anos.
É claro que ainda falta muito a fazer
nessa trajetória, pois apenas 20% dos
municípios brasileiros têm museus.
Diferentemente da China, que decidiu que até 2010 criaria 5.000 museus
novos, temos que sensibilizar cada
vez mais a sociedade para a preservação da memória e para pensar os museus como ferramentas para todas as
classes sociais, como instrumentos de
mudança social e desenvolvimento.
Os museus são espaços de poder e
muitos deles foram criados para simbolizar isso. Temos exemplos como o
MoMa, de Nova York, que serviu à
Guerra Fria, e até mesmo o Museu
Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, que foi criado pelo Estado Novo
para produzir uma idéia de nação.
Nessa nova fase, os museus brasileiros trabalham na institucionalização da política museológica, com a
criação do Ibram (Instituto Brasileiro
de Museus). Essa proposta integra o
programa de governo do presidente
Lula e é um passo fundamental para
dar continuidade às conquistas da Política Nacional de Museus. É uma inovação em relação ao atual modelo de
gestão do patrimônio cultural, inovação que já ocorreu em outros países.
Essas ações são uma construção da
imaginação museal brasileira, que
tem caminhado em busca de garantir
um futuro perene para o campo museal brasileiro. Esse futuro se constrói
hoje.
JOSÉ DO NASCIMENTO JÚNIOR, 41, antropólogo, mestre em antropologia da política, é diretor de Museus e Centros Culturais do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional), do Ministério da Cultura.
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