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CLÓVIS ROSSI
Os Neros de arrabalde
SÃO PAULO - Não faz muito, o presidente Fernando Henrique Cardoso
produziu uma obviedade que, no entanto, parecia frase de campanha anti-PT. Disse que, se o próximo presidente for incompetente, o Brasil poderá virar uma Argentina.
Bom, ontem o Brasil estava uma
Argentina. O risco-país subiu para
um patamar que coloca a pátria tupiniquim acima até da Nigéria, o dólar já está arranhando os R$ 2,80, a
agência de classificação de risco
Moody's rebaixou a cotação do Brasil, e a JP Morgan, a instituição financeira que faz o índice do risco-país,
avisou que, do jeito que está, a classificação do Brasil significa que o mercado espera o calote no máximo em
seis meses (a dez dias da posse do novo presidente, portanto).
Seria, pois, Fernando Henrique
Cardoso um incompetente?
Não sei. Mas o fato é que, além de
virar uma Argentina, o Brasil está espalhando a crise para os demais
emergentes, que, a propósito, submergem cada vez mais .
Pelo menos foi o que disse Eduardo
Faria, economista-chefe do Banco
Safra, a Paulo Henrique Amorim, do
UOL News: a crise no Brasil já afeta
os mercados emergentes.
Não deixa de ser uma cruel ironia:
em vez de ser vítima do contágio argentino, o Brasil é que contagia os
outros com seus males, cada vez
maiores e mais doloridos.
Está ficando muito difícil convencer o distinto público de que a culpa
da crise é de Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes ou Anthony Garotinho. Mesmo assim, sempre haverá
quem proponha que os três retirem
suas candidaturas como única forma
de tranquilizar os mercados.
Talvez funcione. Talvez seja tarde
demais. O pessoal do governo que
acendeu a fogueira da "argentinização", esperando que ela chamuscasse
a oposição, deu uma de Nero de arrabalde: o Brasil está ardendo, e ninguém tem lira para tocar.
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