São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Devagar com o andor

BRASÍLIA - Na época mais quente da crise do TRT-SP, encerrei a coluna de 14 de julho de 2000 assim: "Posso até discordar radicalmente, mas não vai faltar quem chame Eduardo Jorge de PC Farias de FHC". Não deu outra. Já no dia seguinte, o ex-secretário-geral da Presidência virava o "EJ".
Agora, o Ministério Público denuncia que a Prefeitura de Santo André exigia R$ 40 mil mensais de empresa de ônibus para campanhas do PT. No meio da história, ou no centro dela, o estranho Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado Celso Daniel. Ele contou (por consciência ou por ódio?) que o dinheiro era levado ao deputado José Dirceu.
Da mesma forma como falei de Eduardo Jorge, falo agora do presidente do PT: posso até discordar radicalmente, mas não vai faltar quem chame Dirceu de Ricardo Sérgio do Lula. (Ricardo Sérgio é o cara nebuloso atrelado ao tucano José Serra).
Por telefone, por e-mail e pessoalmente, da última vez na convenção do PSDB, no sábado passado, Eduardo Jorge sempre reclama de que eu vivia pedindo explicações para as denúncias e suspeitas contra ele e de que está na hora de "inocentá-lo".
Jornalistas não são juízes, advogados, promotores, procuradores ou policiais para acusar ou inocentar ninguém. No máximo, conhecemos a vida pregressa dos políticos, investigamos documentos, ouvimos testemunhos e usamos indícios e provas daqueles outros profissionais. É por isso que, também no máximo, posso registrar que todas as apurações contra Eduardo Jorge, uma atrás da outra, estão dando em nada -como, aliás, já escreveu Clóvis Rossi.
Mas posso alertar que todas as investigações e versões de Santo André devem ser feitas com rigor e em busca da verdade. Não com intuito político-eleitoral. Em épocas de campanha, os nervos andam à flor da pele. Que não se pule do terrorismo do "mercado" para o massacre moral irresponsável de qualquer dos lados.
Apurar tudo só melhora a democracia. Deturpar com fins eleitorais é jogar a democracia na lama. Portanto, aos fatos. Nada mais que os fatos.



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