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CARLOS HEITOR CONY
A choradeira da derrota
RIO DE JANEIRO - Um dos problemas mais constrangedores dos cronistas
esportivos é a necessidade diária de
esconder a preferência pessoal, a
obrigação de parecer imparcial e desinteressado, quando, desde criancinha, torceu adoidadamente por este
ou por aquele clube.
Tirante casos especiais, como o de
Nelson Rodrigues, que torcia descaradamente pelo Fluminense, de Ary
Barroso, que fazia o mesmo pelo Flamengo, todos procuram, dentro de
suas possibilidades, dar a impressão
de que são leais à informação, isentos
nos comentários. Os casos de Nelson e
de Ary não contam, eles passaram à
história por outros motivos, um no
teatro, outro na música popular. Estavam se lixando para a objetividade
no futebol, que encaravam como paixão -e aí valia tudo.
Passando da crônica esportiva para
a crônica política, percebe-se o mesmo esforço em procurar a objetividade, a linha justa da isenção. Ao contrário do futebol, no qual as opções
são tomadas na infância, o mais tardar na adolescência, e permanecem
as mesmas por toda a vida, na política há variações de gênero e grau, "la
donna è mobile", os valores mudam,
os critérios se ajustam ou se reajustam dentro de conveniências pessoais
ou profissionais
No recente duelo entre governo e
oposição, provocado pelo aumento
no salário mínimo, todos procuraram a objetividade profissional, pelo
menos até que o apito final encerrasse a disputa no Senado, com a derrota do governo.
E aí, exatamente como no futebol, a
choradeira foi geral, todos passaram
recibo. A mídia ligada ao governo e
ao PT atribuiu o resultado ao ressentimento, à indecente cobrança de
cargos e verbas, desclassificando de
alto a baixo a decisão da maioria. Escandalizados, apontam o absurdo de
ACM e Heloísa Helena estarem eventualmente no mesmo lado. E se esquecem do absurdo maior de Lula estar hoje no mesmo barco do FMI.
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