São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2004

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JOSÉ SERRA

Da coluna às urnas

Encerro hoje uma nova fase de meu diálogo com os leitores da Folha por meio deste espaço, até agora o principal veículo de expressão de meu pensamento e de minha visão sobre o Brasil. Quando retomei a coluna, em janeiro passado, meus planos de vida eram diferentes dos atuais.
Depois da campanha presidencial, passei um ano em Princeton, nos Estados Unidos, lendo, escrevendo e fazendo conferências. Ao retornar ao Brasil, pretendia exercer a presidência do PSDB, para a qual fora eleito em novembro, voltar a dar aulas, escrever e cuidar mais de minha vida pessoal, depois de 20 anos de atuação pública ininterrupta como secretário de Estado, deputado federal, senador, ministro do Planejamento e ministro da Saúde. Novas campanhas, pensava eu, só em 2006.
Minhas intenções eleitorais se restringiam, neste ano, a organizar a campanha nacional do PSDB e a percorrer o país em apoio a nossos candidatos. Os 33 milhões de votos que obtivemos em 2002 e a vitória em mais de 2.000 municípios, sem contar aqueles em que chegamos às vizinhanças do empate, poderiam ser úteis à consolidação de nosso partido.
Para um político, nada mau: estabelecer novas relações de amizade e de parceria, ajudar outros companheiros em suas campanhas sem sofrer pessoalmente as tensões das disputas e das incertezas e, sobretudo, cumprir o dever da oposição a um governo federal que, depois de um ano e meio, ainda não conseguiu sequer definir o que pretende para o país.
Ao longo dos últimos meses, os planos iniciais foram se alterando, e terminei escolhendo o caminho do risco, pois aprendi desde cedo que os critérios de decisão na vida pública nunca devem ser estritamente pessoais, sendo preciso estar aberto ao sentimento e à razão dos amigos que nos cercam e das pessoas anônimas que se aproximam de nós nas ruas, nas palestras, nos eventos.
Por isso, deixo hoje esta coluna para integrar-me novamente na batalha das urnas, agora em minha cidade natal, São Paulo, aliás a mais brasileira das cidades, pois nela moram e trabalham pessoas de todos os Estados. Será uma batalha especialmente difícil, seja em razão da força dos outros candidatos, seja por causa da imensidão da cidade e da complexidade de seus problemas.
Ao contrário do que se especula, a disputa não deverá ser federalizada -se fosse, aliás, não seria tão árdua. Predominarão os temas locais, como costuma acontecer em eleições municipais. A população quer saber como pode, pelas urnas, melhorar o transporte e o trânsito ou os serviços municipais de educação e saúde. Ela sabe que o prefeito pode aliviar, mas não resolver os problemas do desemprego, bem mais afeitos à esfera federal.
Ainda assim, o quadro nacional estará presente, não tanto no debate entre os candidatos, mas como pano de fundo, na mente das pessoas. Do mesmo modo, estarão presentes avaliações quanto aos jeitos de se fazer campanha e às diferenças entre o que se promete e o que se faz, entre os estilos de governar. São fatores que não dependem da vontade dos candidatos, nem de suas equipes de comunicação, nem dos discursos no Congresso, nas Assembléias Legislativas ou nas Câmaras Municipais. Simplesmente existem e influenciarão os eleitores tanto quanto os jornais que chegam a suas mãos, os noticiários da televisão ou as telas dos computadores no caso dos internautas.
Mais uma vez agradeço ao melhor jornalista da Folha, Octavio Frias de Oliveira, a oportunidade que me ofereceu nesta página, à qual espero um dia voltar, quando não estiver em campanha nem ocupando cargos governamentais.


José Serra ocupou esta coluna às segundas-feiras.


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