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JOSÉ SERRA
Da coluna às urnas
Encerro hoje uma nova fase de
meu diálogo com os leitores da
Folha por meio deste espaço, até agora o principal veículo de expressão de
meu pensamento e de minha visão
sobre o Brasil. Quando retomei a coluna, em janeiro passado, meus planos de vida eram diferentes dos
atuais.
Depois da campanha presidencial,
passei um ano em Princeton, nos Estados Unidos, lendo, escrevendo e fazendo conferências. Ao retornar ao
Brasil, pretendia exercer a presidência
do PSDB, para a qual fora eleito em
novembro, voltar a dar aulas, escrever
e cuidar mais de minha vida pessoal,
depois de 20 anos de atuação pública
ininterrupta como secretário de Estado, deputado federal, senador, ministro do Planejamento e ministro da
Saúde. Novas campanhas, pensava
eu, só em 2006.
Minhas intenções eleitorais se restringiam, neste ano, a organizar a
campanha nacional do PSDB e a percorrer o país em apoio a nossos candidatos. Os 33 milhões de votos que obtivemos em 2002 e a vitória em mais
de 2.000 municípios, sem contar
aqueles em que chegamos às vizinhanças do empate, poderiam ser
úteis à consolidação de nosso partido.
Para um político, nada mau: estabelecer novas relações de amizade e de
parceria, ajudar outros companheiros
em suas campanhas sem sofrer pessoalmente as tensões das disputas e
das incertezas e, sobretudo, cumprir o
dever da oposição a um governo federal que, depois de um ano e meio, ainda não conseguiu sequer definir o que
pretende para o país.
Ao longo dos últimos meses, os planos iniciais foram se alterando, e terminei escolhendo o caminho do risco,
pois aprendi desde cedo que os critérios de decisão na vida pública nunca
devem ser estritamente pessoais, sendo preciso estar aberto ao sentimento
e à razão dos amigos que nos cercam e
das pessoas anônimas que se aproximam de nós nas ruas, nas palestras,
nos eventos.
Por isso, deixo hoje esta coluna para
integrar-me novamente na batalha
das urnas, agora em minha cidade natal, São Paulo, aliás a mais brasileira
das cidades, pois nela moram e trabalham pessoas de todos os Estados. Será uma batalha especialmente difícil,
seja em razão da força dos outros candidatos, seja por causa da imensidão
da cidade e da complexidade de seus
problemas.
Ao contrário do que se especula, a
disputa não deverá ser federalizada
-se fosse, aliás, não seria tão árdua.
Predominarão os temas locais, como
costuma acontecer em eleições municipais. A população quer saber como
pode, pelas urnas, melhorar o transporte e o trânsito ou os serviços municipais de educação e saúde. Ela sabe
que o prefeito pode aliviar, mas não
resolver os problemas do desemprego, bem mais afeitos à esfera federal.
Ainda assim, o quadro nacional estará presente, não tanto no debate entre os candidatos, mas como pano de
fundo, na mente das pessoas. Do mesmo modo, estarão presentes avaliações quanto aos jeitos de se fazer campanha e às diferenças entre o que se
promete e o que se faz, entre os estilos
de governar. São fatores que não dependem da vontade dos candidatos,
nem de suas equipes de comunicação,
nem dos discursos no Congresso, nas
Assembléias Legislativas ou nas Câmaras Municipais. Simplesmente
existem e influenciarão os eleitores
tanto quanto os jornais que chegam a
suas mãos, os noticiários da televisão
ou as telas dos computadores no caso
dos internautas.
Mais uma vez agradeço ao melhor
jornalista da Folha, Octavio Frias de
Oliveira, a oportunidade que me ofereceu nesta página, à qual espero um
dia voltar, quando não estiver em
campanha nem ocupando cargos governamentais.
José Serra ocupou esta coluna às segundas-feiras.
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