São Paulo, terça-feira, 21 de junho de 2011

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A nota de Kassab

Depois de um bom começo, Kassab conduz administração mediana em São Paulo, mais preocupado com seu futuro político do que com a cidade

Não se pode acusar o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (sem partido), de falta de confiança.
Na sabatina a que foi submetido ontem pela Folha e pelo UOL, distribuiu cumprimentos para muita gente, dos engenheiros da prefeitura ao deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) -e até para si próprio. Instado a avaliar sua gestão, atribuiu-se nota 10, "pelo esforço, pela vontade de acertar".
A população faz juízo bem diferente da administração Kassab. Na mais recente pesquisa Datafolha, em março, ele recebeu a pior nota de seu atual mandato, 4,6.
Incoerente, ao menos, o prefeito não foi. Na primeira sabatina de que participou, há quatro anos, também reivindicara nota 10. A percepção da população em 2007 era ainda pior. Os paulistanos davam nota 3,9 ao político que entrara no lugar de José Serra (PSDB).
Daí em diante, houve sensível melhora. Sua nota chegou a 6,6. Mas, depois de um começo com projetos inovadores e arrojados, a gestão de Kassab perdeu inventividade e tornou-se mediana.
No que respeita ao trânsito, mazela paulistana típica, medidas como a restrição à circulação de caminhões e a diminuição no número de vagas de estacionamento nas ruas contribuíram para aumentar a fluidez. Mas promessas como a implantação de 66 km de corredores de ônibus não saíram da prancheta (a via preferencial na Radial Leste deve ficar pronta no final do mandato).
Na saúde, o compromisso de erguer três hospitais não se concretizou. As unidades AMA (Atendimento Médico Ambulatorial) ajudaram a reduzir a espera por serviços, mas a atenção continua precária para quem depende do sistema público de saúde.
Ainda há 100 mil crianças à espera de lugares em creches, embora as vagas tenham triplicado para perto de 200 mil desde 2005. Houve melhorias nos salários de professores, e o "turno da fome" está em extinção, mas o desempenho dos alunos em exames patina.
Iniciativas como a Lei Cidade Limpa ficaram, pouco a pouco, eclipsadas pelo lixo que se acumula nas ruas e pelos alagamentos a cada verão. Espalha-se a percepção de abandono da cidade.
Na visão dos paulistanos, o administrador eficiente deu lugar ao político empenhado só em colocar de pé seu novo partido, o PSD (Partido Social Democrático). A invenção de um reduto que permita ao mesmo tempo apoiar o governo de Dilma Rousseff (PT) e manter as boas relações com facções do DEM e do PSDB parece monopolizar a atenção do alcaide.
O PSD pode firmar-se em breve. A avaliação de Kassab como prefeito segue no sentido oposto.


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