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CLÓVIS ROSSI
É o bolso, estúpido
SÃO PAULO - A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios)
relativa a 1999, ontem divulgada,
mostra que a grande maioria dos indicadores registrou melhoras entre
1995 e 1999, ou seja, durante o reinado Fernando Henrique Cardoso.
Por que, então, o presidente é tão
impopular? Simples: a Pnad mostra
que, de 1998 para 1999, "caiu de forma acentuada o nível das remunerações" (do trabalho).
Os 10% que recebem remuneração
mais baixa sofreram uma perda de
6,8%, e os 10% de mais altos rendimentos perderam 8,6%.
É bom registrar que a Pnad só mede
rendimentos do trabalho. Não capta,
portanto, os ganhos de renda dos detentores de capital.
Com menos dinheiro no bolso, é natural que o distinto público não veja
lá com muita simpatia o governo.
É, de certa forma, a contrapartida
dos primórdios do Plano Real: nos
seus dois primeiros anos, ele conseguiu de fato produzir ganhos de rendimentos. Conseguiu produzir igualmente a eleição e, depois, a reeleição
de Fernando Henrique.
Agora, vem a conta, até porque não
foram implementadas as políticas
prometidas naqueles cinco dedos da
mão espalmada que simbolizaram as
prioridades do primeiro mandato.
A Pnad mostra que houve avanços,
sim, mas na maior parte dos casos foram microscópicos, exceto na educação (mas, neste caso, a Pnad não mede a qualidade do ensino, e o próprio
ministro Paulo Renato acaba de admitir que os professores brasileiros
não aprendem a ensinar).
Se os avanços são pouco significativos e se o dinheiro no bolso encolheu
quase sete pontos percentuais para os
de baixa renda, FHC só poderia ser
mesmo impopular. É pouco provável,
mesmo que a economia se recupere,
que haja ganhos de rendimentos significativos até o fim do seu mandato.
Logo, sua influência na eleição de
2002 tende a ser reduzida.
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