São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2000


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CLÓVIS ROSSI

É o bolso, estúpido

SÃO PAULO - A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) relativa a 1999, ontem divulgada, mostra que a grande maioria dos indicadores registrou melhoras entre 1995 e 1999, ou seja, durante o reinado Fernando Henrique Cardoso.
Por que, então, o presidente é tão impopular? Simples: a Pnad mostra que, de 1998 para 1999, "caiu de forma acentuada o nível das remunerações" (do trabalho).
Os 10% que recebem remuneração mais baixa sofreram uma perda de 6,8%, e os 10% de mais altos rendimentos perderam 8,6%.
É bom registrar que a Pnad só mede rendimentos do trabalho. Não capta, portanto, os ganhos de renda dos detentores de capital.
Com menos dinheiro no bolso, é natural que o distinto público não veja lá com muita simpatia o governo.
É, de certa forma, a contrapartida dos primórdios do Plano Real: nos seus dois primeiros anos, ele conseguiu de fato produzir ganhos de rendimentos. Conseguiu produzir igualmente a eleição e, depois, a reeleição de Fernando Henrique.
Agora, vem a conta, até porque não foram implementadas as políticas prometidas naqueles cinco dedos da mão espalmada que simbolizaram as prioridades do primeiro mandato.
A Pnad mostra que houve avanços, sim, mas na maior parte dos casos foram microscópicos, exceto na educação (mas, neste caso, a Pnad não mede a qualidade do ensino, e o próprio ministro Paulo Renato acaba de admitir que os professores brasileiros não aprendem a ensinar).
Se os avanços são pouco significativos e se o dinheiro no bolso encolheu quase sete pontos percentuais para os de baixa renda, FHC só poderia ser mesmo impopular. É pouco provável, mesmo que a economia se recupere, que haja ganhos de rendimentos significativos até o fim do seu mandato. Logo, sua influência na eleição de 2002 tende a ser reduzida.


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