São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2000


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ELIANE CANTANHÊDE

Nada se cria, tudo se transforma

BRASÍLIA - Havia milhões de motivos técnicos para a redução dos juros, que uns e outros se recusavam a ver.
Agora, há milhões de motivos mais do que políticos para essa redução, e ai de quem não visse.
Não que o governo esteja jogando para o alto a cartilha do pragmatismo e se rendendo aos ditames imperativos da situação política, mas o peso dos dois na balança mudou.
Ano após ano, mês após mês, houve muita gente forte, fora e dentro do governo, defendendo a queda dos juros e a manutenção do viés de baixa. Empresários, é óbvio, mas também ministros e governadores aliados.
Agora, era querer ou querer. A expectativa é de revisão para baixo da inflação? Ótimo, ajuda. O preço do petróleo continua alto? Paciência.
O fato é que não está fácil desconsiderar os índices macropolíticos: FHC já tinha 41% de ruim e péssimo nas pesquisas de popularidade -antes dessa lama do TRT-SP e com mais de dois anos de mandato pela frente.
Os índices macroeconômicos são favoráveis, mas não colam. Os macropolíticos são tristemente desfavoráveis e esses, sim, colam.
Não há um só ser vivo em Brasília capaz de dizer que o governo e particularmente FHC possam sair da atual crise como entraram -o que já não era muito.
Um amigo de FHC fala em "estrago irreversível". Um aliado fiel, em "dano irrecuperável". São sinônimos do pânico inicial e do desalento que se instalou no governo desde as evidências de culpa de Eduardo Jorge.
Estrago político feito, é hora de o governo armar estratégias para enfrentar o pior. E tudo pode ser ainda pior: revelações do juiz Lalau, contas, ligações, jatinhos.
Já que não foi eficaz em descolar FHC de Eduardo Jorge, o governo tem que pelo menos: 1) criar alguma sensação de alívio na economia; 2) insistir em descolar a crise política da razoável estabilidade econômica.
Conclusão: a menor taxa de juros desde 1986 tem tudo a ver com tudo.


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