|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Nada se cria, tudo se transforma
BRASÍLIA - Havia milhões de motivos técnicos para a redução dos juros,
que uns e outros se recusavam a ver.
Agora, há milhões de motivos mais
do que políticos para essa redução, e
ai de quem não visse.
Não que o governo esteja jogando
para o alto a cartilha do pragmatismo e se rendendo aos ditames imperativos da situação política, mas o peso dos dois na balança mudou.
Ano após ano, mês após mês, houve
muita gente forte, fora e dentro do
governo, defendendo a queda dos juros e a manutenção do viés de baixa.
Empresários, é óbvio, mas também
ministros e governadores aliados.
Agora, era querer ou querer. A expectativa é de revisão para baixo da
inflação? Ótimo, ajuda. O preço do
petróleo continua alto? Paciência.
O fato é que não está fácil desconsiderar os índices macropolíticos: FHC
já tinha 41% de ruim e péssimo nas
pesquisas de popularidade -antes
dessa lama do TRT-SP e com mais de
dois anos de mandato pela frente.
Os índices macroeconômicos são
favoráveis, mas não colam. Os macropolíticos são tristemente desfavoráveis e esses, sim, colam.
Não há um só ser vivo em Brasília
capaz de dizer que o governo e particularmente FHC possam sair da
atual crise como entraram -o que já
não era muito.
Um amigo de FHC fala em "estrago
irreversível". Um aliado fiel, em "dano irrecuperável". São sinônimos do
pânico inicial e do desalento que se
instalou no governo desde as evidências de culpa de Eduardo Jorge.
Estrago político feito, é hora de o
governo armar estratégias para enfrentar o pior. E tudo pode ser ainda
pior: revelações do juiz Lalau, contas,
ligações, jatinhos.
Já que não foi eficaz em descolar
FHC de Eduardo Jorge, o governo
tem que pelo menos: 1) criar alguma
sensação de alívio na economia; 2)
insistir em descolar a crise política da
razoável estabilidade econômica.
Conclusão: a menor taxa de juros
desde 1986 tem tudo a ver com tudo.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: É o bolso, estúpido Próximo Texto: Rio de Janeiro - Marcelo Beraba: Sandro, Binguilim e Quiquito Índice
|