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SALÁRIOS E JUROS
Uma das justificativas do
Banco Central para o conservadorismo com que tem tratado a evolução da taxa de juros dizia respeito
aos riscos de uma "resistência inflacionária" alimentada pelo repasse de
aumentos de preços aos salários.
Na sexta-feira, mais um indicador
veio contrariar essa percepção. A
Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas (Fipe) divulgou deflação de 0,35% na segunda quadrissemana de julho, a maior queda em
mais de quatro anos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA), usado pelo BC para estabelecer as metas de inflação, já registrara
em junho deflação de 0,15%.
As fortes restrições ao setor produtivo não apenas aprofundam o desemprego como afetam os salários.
Pesquisa da Central Única dos Trabalhadores (CUT) envolvendo 30 categorias profissionais em São Paulo
mostra que quase metade não conseguiu repor as perdas de inflação no
primeiro semestre deste ano. Cerca
de 27% delas ainda continuam em
processos de negociação. Os temores quanto à generalização das reindexações salariais, portanto, parecem afastados -devendo, na realidade, ser trocados por apreensões
sobre a queda de renda das famílias.
Registre-se, ainda, que grande parte dos reajustes obtidos por trabalhadores veio a ser parcelada, tendo seu
impacto diluído ao longo do tempo.
A pressionar, previsivelmente, os índices de inflação restam os próximos
ajustes de tarifas públicas -situação
contra a qual a política de juros elevados não se aplica.
As condições estão dadas para que
o Comitê de Política Monetária (Copom) ofereça à economia brasileira
uma boa notícia nesta semana. Em
que pesem declarações não muito
animadoras do ministro da Fazenda,
que sugerem uma queda constante,
mas bastante moderada dos juros, a
expectativa dos setores produtivos é
que a autoridade monetária sinalize
firmemente uma reversão da atual
conjuntura. Como disse o presidente
Lula a líderes na Europa, já é hora de
trocar o discurso dos ajustes pelo do
crescimento.
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