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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Cavar mais fundo
As eleições parecem ainda não
atrair o povo, em parte decepcionado por não ver suas expectativas
correspondidas. No entanto é preciso
reavivar a confiança e acreditar nas reservas morais que existem no coração
de nossa gente e nas reais possibilidades de desenvolvimento nacional.
Há um primeiro nível de confiança
que é mais fácil despertar e que atende
às exigências do bem-estar imediato,
como o alimento, a moradia, o trabalho e toda a sorte de políticas públicas
que responda à necessidade de educação, de saúde e de segurança. Nessa
perspectiva, incluem-se os programas
de candidatos e partidos em vista das
melhorias tão esperadas pelo povo.
A reunião realizada ontem, 20 de
agosto, em Brasília, da comissão da
CNBB responsável pela superação da
fome e da miséria, apresentou amplo
relatório das múltiplas conquistas
nestes dois anos. Cresceu o senso de
justiça social. A solidariedade vem se
manifestando nas cisternas do semi-árido, nas hortas comunitárias, na
educação nutricional e ecológica.
Cooperativas de economia solidária,
incentivos à agricultura familiar e outros projetos de inclusão social.
No entanto o atendimento desejado
a esse amplo leque de necessidades
imediatas não é suficiente para fundamentar a confiança de dias melhores
no coração do povo. É preciso "cavar
mais fundo" e atingir o nível dos valores morais e religiosos.
No último século, houve grave detrimento no patrimônio moral da humanidade, com enorme perda de valores que devem ser novamente reconquistados.
O mundo ocidental capitalista supervalorizou a concentração de bens
materiais, subordinou os valores espirituais à dimensão econômica, gerou
o consumismo e maiores injustiças
sociais.
O empobrecimento de valores tornou-se mais grave pela educação materialista que, a partir do Leste Europeu, durante decênios, desrespeitou a
consciência, cerceou a liberdade de
culto e tentou impor o ateísmo. O materialismo próprio da opção capitalista e a opressão doutrinal comunista
criaram um vazio espiritual e moral
sem precedentes que lesou profundamente a nova geração, vítima da
amargura, da droga, da violência e do
desânimo diante da vida.
Essa situação precisa ser superada
para que haja confiança e paz interior.
Mas isso requer a fidelidade da consciência à sua exigência mais íntima
que é a abertura ao transcendente, o
anseio de conhecer e amar a Deus e de
descobrir em cada pessoa humana a
dignidade de amar e de ser amado.
O encontro com Deus no mais íntimo de cada um de nós é a experiência
mais bela de nossa existência e há de
suscitar a confiança plena e a alegria
de viver e de conviver.
A fé em Deus sustentará a coragem e
a paciência diante das dificuldades e
desafios na certeza de que a solidariedade é possível, o amor vale mais e o
bem há de vencer o mal.
Para confiar temos de aprender a cavar mais fundo.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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