São Paulo, sábado, 21 de agosto de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

O novo Congonhas

RIO DE JANEIRO - Está ficando bom, quase ótimo, o aeroporto de Congonhas, reformado e adaptado ao sempre crescente fluxo de passageiros. Vem operando em regime ainda experimental, com algumas confusões e retardos que o tempo certamente eliminará.
Como em qualquer aeroporto moderno, caminha-se demais pelos corredores, escadas rolantes e salas de espera. O que se andava antes na pista, a pé ou naqueles ônibus sinistros, anda-se agora em corredores pasteurizados e ainda não bem sinalizados.
Nesta semana, entrei e saí de Congonhas duas vezes, são e salvo, apesar do pessoal de terra, mesmo com os treinos a que foram submetidos, não estar familiarizado com a nova rotina de embarque e desembarque.
Aumentaram os portões de saída, um deles, o 22, foi a besta negra desta semana inicial. No check-in, mandaram-me para o portão 7. "Nel mezzo del camim", o alto-falante avisou que o portão do meu vôo mudara para o 5. Quando cheguei ao 5, já era o 11. Mandaram voltar para o 5 e, na hora do embarque, pediram-me a presença imediata no portão 22, que fica do outro lado do aeroporto e do globo terrestre.
Da segunda vez, percebi que o tal portão 22 é o buraco negro que suga os passageiros de todos os vôos. Peregrinei novamente por vários portões e só me senti seguro quando encarei o 22. O mesmo acontecia com outros vôos.
Antigamente, no Rio, havia uns microônibus cor de laranja, lotações homicidas, faziam a linha Meier-Mauá, eram personagens do cartunista Carlos Estêvão em "O Cruzeiro". Na antena do carro, havia a cabeça mumificada de passageiro e no pára-brisa dianteiro o itinerário: Méier Ohio Marrakesh Mauá
Lembrei desses lotações do Carlos Estêvão. O portão 22 parecia aqueles lotações, podia levar-me para qualquer destino. Diante dele, fiquei que nem aquele marquês indignado que montou em seu fogoso corcel e partiu furioso em todas as direções.


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