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A recessão brasileira chegou ao fim?
SIM
O problema é a instabilidade
JULIO GOMES DE ALMEIDA
Tecnicamente, os indicadores mostram que a recessão que se iniciou em
meados de 1998 chegou ao fim. O PIB
já cresce há dois trimestres e as projeções indicam que a partir deste mês
devemos voltar a ter crescimento positivo no setor que mais refletiu a crise: o
industrial. As projeções apontam que
o crescimento da produção industrial
no terceiro trimestre de 1999 (com relação ao mesmo período do ano anterior) será baixo, porém o importante é
que saia do vermelho, depois de uma
sucessão de quedas tão expressivas
quanto as de 2,5% a quase 5% nos quatro trimestres anteriores. As mesmas
projeções indicam um crescimento
maior para o último trimestre, ajudando para que no fechamento do ano o
resultado seja uma variação possivelmente positiva (embora próxima de
zero) da produção industrial. Ao lado
do crescimento agrícola, são essas tendências que animam a previsão de que
o PIB registre em 1999 um pequeno
declínio ou um crescimento zero, contra estimativas muito mais adversas
feitas no início do ano.
As principais condições para que um
quadro de antecipações como o acima
descrito venha a se concretizar são que
a presente onda de instabilidade política não contamine as decisões empresariais e as dos consumidores, o que
requer rápida resposta do governo, e
que a política monetária mantenha sua
orientação recente e não responda à
presente instabilidade cambial elevando a taxa de juros. O aumento dos juros na atual situação não acabaria com
a instabilidade e abortaria esse ensaio
de recuperação da economia, o qual,
embora esteja longe de indicar uma retomada fulgurante do crescimento,
traz alento à produção e ao emprego,
em um momento em que as expectativas se deterioram com rapidez e vão
confirmando um quadro de pronunciado pessimismo.
O pessimismo é devido à deterioração do quadro político e social interno,
não refletindo a capacidade de resistência do setor real da economia aos
erros da política econômica. Reflete,
sim, o desgaste e mesmo o cansaço
provocado por um modelo econômico
que, implantado já há cinco anos, na
esteira da conquista da estabilização,
sistematicamente negou valor à produção e deliberadamente encolheu os
espaços de geração de renda, emprego,
investimentos e exportações, ou seja,
negou tudo o que, no final das contas,
importa em uma economia que se
quer atual, estável e aberta.
Se é assim, punir mais uma vez a produção e o emprego não é solução para
esse quadro. Uma parcela da sua superação está no lado político, mas é necessário responder também no plano
econômico, por meio de medidas que
acenem com respostas relativamente
rápidas e que, somadas ao (modesto)
aumento previsto da produção, acenem com perspectiva de recuperação
do emprego e maior crescimento.
Resistir a aumentar a taxa de juros,
para o quanto antes dar continuidade
à redução iniciada meses atrás; se necessário for, flexibilizar a política de intervenção do Banco Central no mercado cambial, para não referendar as
exageradas expectativas altistas da cotação do dólar; formular um programa
de combate ao desemprego e articular
"para valer" um plano de incentivo às
exportações, para simultaneamente
estimular o crescimento interno e minimizar a instabilidade cambial; essas
seriam respostas efetivas e simbolizariam o início da mudança do modelo
econômico.
Julio Gomes de Almeida, 44, doutor em economia,
é diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
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