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CARLOS HEITOR CONY
A fome e a violência
RIO DE JANEIRO - Não sei se estão lembrados, eu próprio lembro vagamente, mas sem detalhes de data,
propósitos e meios. Durante os oito
anos do governo anterior, na média
de dois por ano, com a periodicidade
de um cometa, de um eclipse, eram
anunciados planos de salvação da
pátria, com dezenas de parágrafos,
itens, diagramas e objetivos que trariam redenção para nossas misérias.
No papel e na farta distribuição de
matérias pagas ou macetadas na mídia, incluindo-se a costumeira "está
formada a rede nacional de comunicação", o presidente da República ou
o ministro da Fazenda apareciam
maquiados como um ator de novela,
bandeira brasileira ao fundo, e liam
um catatau que ninguém entendia
na hora, mas nos dias seguintes era
louvado e explicado à exaustão pelas
autoridades de segundo escalão e pelos colunistas chegados ao poder.
O grande mérito de cada um desses
planos era encher o vazio da administração, empurrar com a barriga os
problemas de sempre e esquecer os
planos anteriores, que não haviam
saído do papel e da tal rede nacional
de comunicação. Tenho a impressão
de que o Janio de Freitas, com sua
monstruosa memória, é o único cidadão deste país capaz de lembrar todos os lançamentos mirabolantes que
foram feitos pela equipe anterior.
E que continuam a ser feitos pela
atual equipe. A Campanha contra a
Fome, que acaba de receber a crítica
devastadora de um maioral do esquema aliado ao governo, foi o primeiro. Como a média é de dois por
ano, sabe-se que estão na fila de espera outras medidas que os marqueteiros classificam de "impacto".
Pressionado pela passeata do último domingo em Copacabana, o governo deve estar montando um formidável lançamento contra a violência. Ofereço de graça um lema para a
campanha: seja um cidadão! Não
mate nem se deixe matar!
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