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São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

A fome e a violência

RIO DE JANEIRO - Não sei se estão lembrados, eu próprio lembro vagamente, mas sem detalhes de data, propósitos e meios. Durante os oito anos do governo anterior, na média de dois por ano, com a periodicidade de um cometa, de um eclipse, eram anunciados planos de salvação da pátria, com dezenas de parágrafos, itens, diagramas e objetivos que trariam redenção para nossas misérias.
No papel e na farta distribuição de matérias pagas ou macetadas na mídia, incluindo-se a costumeira "está formada a rede nacional de comunicação", o presidente da República ou o ministro da Fazenda apareciam maquiados como um ator de novela, bandeira brasileira ao fundo, e liam um catatau que ninguém entendia na hora, mas nos dias seguintes era louvado e explicado à exaustão pelas autoridades de segundo escalão e pelos colunistas chegados ao poder.
O grande mérito de cada um desses planos era encher o vazio da administração, empurrar com a barriga os problemas de sempre e esquecer os planos anteriores, que não haviam saído do papel e da tal rede nacional de comunicação. Tenho a impressão de que o Janio de Freitas, com sua monstruosa memória, é o único cidadão deste país capaz de lembrar todos os lançamentos mirabolantes que foram feitos pela equipe anterior.
E que continuam a ser feitos pela atual equipe. A Campanha contra a Fome, que acaba de receber a crítica devastadora de um maioral do esquema aliado ao governo, foi o primeiro. Como a média é de dois por ano, sabe-se que estão na fila de espera outras medidas que os marqueteiros classificam de "impacto".
Pressionado pela passeata do último domingo em Copacabana, o governo deve estar montando um formidável lançamento contra a violência. Ofereço de graça um lema para a campanha: seja um cidadão! Não mate nem se deixe matar!



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