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São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Fobias

MIAMI - Os rotores dos helicópteros da polícia permanentemente vigiando as manifestações contra a Alca são, talvez, o único ruído das ruas que chega ao hotel Intercontinental, QG da conferência ministerial da Área de Livre Comércio das Américas.
O texto final já está pronto, e tentar reabri-lo seria o equivalente a uma guerra que ninguém quer.
A guerra mesmo ficou restrita às ruas: a polícia, em alguns momentos, bateu com sanha em manifestantes indefesos e desarmados.
Se o ruído não chega aos ministros, é porque o hotel em que se reúnem e toda uma vasta área em volta dele se transformaram em perímetro de segurança, isolados por um esquema formidável, que inclui agentes com uniforme completo de "robocops" a cada poucos metros.
Ou, posto de outra forma, a sociedade não é nem ouvida nem cheirada nessa história da Alca. É verdade que o Itamaraty, desde o governo anterior, criou canais de comunicação, tem ouvido as ONGs e os empresários e até incluiu alguns de seus representantes na delegação oficial.
É também verdade que, anteontem, funcionários brasileiros, argentinos e venezuelanos saíram do perímetro de segurança para discutir o andamento das negociações com grupos mobilizados da sociedade civil.
O problema é que a guinada no curso da Alca não foi discutida ou devidamente informada ao distinto público. Refiro-me ao entendimento Brasil-EUA, que levou a uma declaração ministerial aguada, a Alca "light", como a maior parte da mídia, inclusive e principalmente a norte-americana, a está chamando.
Nem no Brasil nem nos Estados Unidos. A Folha perguntou a mais de um empresário norte-americano se haviam sido consultados ou, depois, avisados do acordo. Nenhum deles respondeu sim.
Depois há quem batize os manifestantes, pejorativamente, de "globalifóbicos". Você também não ficaria raivoso se seu destino fosse negociado às suas costas?


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