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CLÓVIS ROSSI
Fobias
MIAMI - Os rotores dos helicópteros
da polícia permanentemente vigiando as manifestações contra a Alca
são, talvez, o único ruído das ruas
que chega ao hotel Intercontinental,
QG da conferência ministerial da
Área de Livre Comércio das Américas.
O texto final já está pronto, e tentar
reabri-lo seria o equivalente a uma
guerra que ninguém quer.
A guerra mesmo ficou restrita às
ruas: a polícia, em alguns momentos,
bateu com sanha em manifestantes
indefesos e desarmados.
Se o ruído não chega aos ministros,
é porque o hotel em que se reúnem e
toda uma vasta área em volta dele se
transformaram em perímetro de segurança, isolados por um esquema
formidável, que inclui agentes com
uniforme completo de "robocops" a
cada poucos metros.
Ou, posto de outra forma, a sociedade não é nem ouvida nem cheirada nessa história da Alca. É verdade
que o Itamaraty, desde o governo anterior, criou canais de comunicação,
tem ouvido as ONGs e os empresários
e até incluiu alguns de seus representantes na delegação oficial.
É também verdade que, anteontem,
funcionários brasileiros, argentinos e
venezuelanos saíram do perímetro de
segurança para discutir o andamento das negociações com grupos mobilizados da sociedade civil.
O problema é que a guinada no
curso da Alca não foi discutida ou devidamente informada ao distinto público. Refiro-me ao entendimento
Brasil-EUA, que levou a uma declaração ministerial aguada, a Alca
"light", como a maior parte da mídia, inclusive e principalmente a norte-americana, a está chamando.
Nem no Brasil nem nos Estados
Unidos. A Folha perguntou a mais de
um empresário norte-americano se
haviam sido consultados ou, depois,
avisados do acordo. Nenhum deles
respondeu sim.
Depois há quem batize os manifestantes, pejorativamente, de "globalifóbicos". Você também não ficaria
raivoso se seu destino fosse negociado
às suas costas?
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