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São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Advogado merece respeito

ROBERTO FERREIRA

Quero ser presidente da OAB de São Paulo para reafirmar o seu ideário de liberdade e de justiça social, verdadeiro alicerce que inspirou a sua fundação; para promover a defesa da ordem jurídica democrática e do profissional da advocacia, onde quer que ele esteja; para efetivar a defesa das prerrogativas da classe, lutar pela dignidade de cada advogado e de cada advogada, impor o respeito que lhes é devido e impedir a degeneração do seu mercado de trabalho.
Todos têm assistido -mais, têm vivenciado- às enormes dificuldades que, atualmente, envolvem o exercício da advocacia e sua franca deterioração.
Vemos crescer, a cada instante, o número de autoridades -especialmente do Judiciário, do Ministério Público e da administração, centralizada e autárquica- que dispensam aos advogados tratamento desrespeitoso, depreciativo e, às vezes, até humilhante.
As mais fundamentais prerrogativas são ignoradas, pisoteadas mesmo, tornando o exercício da profissão atividade de alto risco. Banaliza-se a negativa de vista dos autos fora de cartório (e, por incrível que pareça, até no tribunal de ética da OAB-SP isso ocorre), cresce a afronta aos advogados nas audiências, alastram-se portarias, regulamentos e atos normativos que geram obstáculos à desimpedida execução dessa tarefa pública (exercida em ministério privado) que é a advocacia. As prisões em flagrante em plena audiência, por desacato, voltaram a ocorrer, humilhando os advogados, extraindo-lhes a coragem funcional. Quando o profissional, escudado exclusivamente na sua coragem pessoal, insiste em reafirmar suas prerrogativas, é logo tomado por arrogante, já que a bajulação e o servilismo passaram a ser regra. Isso é intolerável.
Até quando continuarão a ser desprezados os dramáticos percalços experimentados pelos advogados paulistas, sobretudo os mais humildes e mais jovens? Até quando continuará a ser tímida a participação das mulheres na direção da nossa classe? Até quando o convênio de assistência judiciária continuará a remunerar os advogados conveniados com honorários miseráveis?


É chegada a hora de resgatar os valores da classe e a respeitabilidade da OAB-SP

Basta! É chegada a hora de resgatar os valores da classe e a respeitabilidade da OAB-SP, que os inscritos mais recentes infelizmente nunca chegaram a conhecer. Urge dinamizar e ampliar a Escola Superior da Advocacia, que deve ser acessível instrumento de reciclagem e aperfeiçoamento de todos, e não elitizado centro de atuação de poucos privilegiados. É fundamental zelar pelo elevado padrão ético da categoria, mas isso não significa julgamentos draconianos, arbitrários e até ilegais no Tribunal de Ética e Disciplina da entidade, como tem ocorrido.
Em suma, é para realizar essa tarefa que apresentamos a todos os colegas nossa candidatura e a nossa chapa, Oposição Unida, 13. As adversidades serão estímulos à nossa luta, pois temos metas claras e definidas. Prefiro ser censurado pela ação a adotar a postura confortável dos omissos.
Quando temos o saudável prazer de ultrapassar os estreitos limites do nosso domicílio profissional, convivemos com realidades rigorosamente díspares. Nos grandes negócios, na forte competição da megaeconomia, encontramos os escritórios internacionais querendo abocanhar parte do mercado advocatício, sem a devida reciprocidade.
É importante que ocorra uma eficiente reforma do Poder Judiciário, de maneira que a base da judicatura seja valorizada, sem concentração do poder nos tribunais superiores.
Que a heróica história de lutas libertárias da nossa instituição possa nos inspirar para a defesa, com destemor e coragem, do patrimônio cívico da OAB, tão negligenciado nos últimos tempos. O que já realizamos na Caasp também seremos capazes de realizar na OAB.

Roberto Ferreira, 55, advogado, é candidato à presidência da OAB-SP. Foi presidente da Caasp (Caixa de Auxílio aos Advogados de São Paulo).


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