São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Quarenta anos da amizade franco-alemã
ALAIN ROUQUIÉ E UWE KAESTNER
Mas a parceria franco-alemã não é só um motor da construção da Europa. De fato, a substância histórica desse diálogo repousou, durante muito tempo, em duas vontades. Primeiro, na vontade de reconciliação entre os nossos povos. E, segundo, na vontade de preservar a paz no continente e de garantir o seu desenvolvimento por meio da reunião das nações em um todo organizado. O desenrolar da história, nestes últimos anos, acelerou-se. Como a Europa, a relação franco-alemã entrou em uma nova era com a queda do Muro de Berlim, a reunificação alemã e o acesso à independência de novos países. A intensificação da construção européia depois dos tratados de Maastricht, Amsterdã e Nice, as perspectivas abertas pela Convenção sobre o Futuro da Europa e as futuras ampliações da União Européia destacam toda a importância desse entendimento privilegiado (sem que ele seja, no entanto, exclusivo) e impõem um novo olhar sobre o Velho Continente, desembaraçado de suas antigas divisões, em marcha rumo a um destino de agora em diante comum. Nestes últimos meses, os dirigentes de nossos países reanimaram o entusiasmo desse empreendimento, dando-lhe um novo dinamismo. E, na realidade, além das respectivas fronteiras de nossos países, além da Europa, o entendimento franco-alemão evidenciou-se no cenário internacional. Conjuntamente, defendemos o multilateralismo e o fortalecimento das Nações Unidas, formulamos propostas comuns -visando proibir a clonagem reprodutiva de seres humanos-, compartilhamos a convicção da necessidade de preservar o ambiente e de "civilizar" a globalização, a fim de enquadrá-la em regras que garantam, entre outros, a preservação da diversidade cultural. Os atentados de 11 de setembro e outros acontecimentos catastróficos que significam o advento de novas ameaças lembram que, em nosso mundo interdependente, são necessárias mais cooperação internacional e, sobretudo, "mais Europa". Uma Europa-potência está nascendo pouco a pouco. Ela quer se afirmar como dona de seu próprio destino, como pólo de paz e estabilidade em um mundo sacudido por numerosas crises. É nessa direção que a França e a Alemanha desejam se engajar ao lado de seus parceiros. O tratado do Eliseu comemora hoje seus 40 anos. Ele nada perdeu de seu vigor e de seu simbolismo e continua vivo tanto no cotidiano quanto no campo estratégico. Ele determina ações e convicções dos dois povos e pode inspirar, ainda e sempre, outras partes do mundo. Alain Rouquié, 63, é embaixador da França no Brasil; Uwe Kaestner, 63, é embaixador da Alemanha no Brasil. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Candido Mendes: Lula: os trunfos lá fora Índice |
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