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ELIANE CANTANHÊDE
A festa acabou
BRASÍLIA - Enquanto Barack
Obama tomava posse, desfilava a pé
pelas ruas de Washington com Michelle e pegava embalo para o baile
da noite, num dia emocionante e
transmitido para todo o planeta, as
Bolsas despencavam lá e cá: o Ibovespa recuou 4% no Brasil.
A festa acabou. Sai de cena o candidato, guardam-se os vestidos de
gala, empurram-se para as gavetas
os discursos de palanque. Chegou a
hora da verdade. E dos problemas.
No discurso de posse, Obama foi
sóbrio, mas falou à alma dos norte-americanos. Usou todo o carisma e
a voz grave e poderosa para admitir
os tempos difíceis e chacoalhar a
garra, a esperança e o decantado patriotismo dos concidadãos, acirrados pela chegada dos negros ao poder e pela expectativa dos pobres de
que tudo será diferente.
Falou também para o mundo,
que está ansioso, cheio de dúvidas e
temores: "O mundo mudou, e precisamos mudar com ele", disse, trocando o tom ameaçador da potência pelo tom contemporizador do líder natural (um fato, não uma vontade ou opção). Estendeu a mão aos
muçulmanos, aos amigos e aos "inimigos anteriores".
Um discurso, assim resumido, de
guerra interna e mutirão contra a
crise e de paz e parceria com o mundo. E com referências, que caíram
especialmente bem no Brasil, ao
aquecimento global e ao uso comedido de energia, para não dizimar os
recursos naturais do planeta e não
fortalecer "os adversários". Uma
clara defesa dos biocombustíveis,
bandeira brasileira.
Foi, como convinha, um discurso
genérico que mostra quem veio e a
que veio. O passo seguinte será a
apresentação da plataforma anual
ao Congresso, quando estabelecerá
não apenas princípios, mas programas, objetivos, metas. Pelos quais
poderá ser aplaudido ou cobrado,
objetivamente, já, logo adiante ou
no futuro.
A eleição e a posse de Obama foram grandes momentos da história.
Que seu governo também seja.
elianec@uol.com.br
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