São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Não dá mais, troca o motor

JORGE BORNHAUSEN

O modelo econômico de inspiração social-democrata que teve sucesso no Plano Real e agora é adotado, tardiamente, pelos petistas, esgotou-se e deve ser substituído.
Lamento o enunciado, mas é esse o teorema que pretendemos demonstrar ao povo brasileiro, com uma proposta completa de política econômica e social.
O que se fez para promover a chamada "estabilidade macroeconômica" (ou seja, ajustar o país aos mais elementares e universais princípios de gestão, o que era renegado por teimosia ou ignorância) é tarefa cumprida e superada. Hoje, a manutenção dos mesmos procedimentos significa estagnação e sufoca o crescimento. Por isso, devemos buscar outro caminho.
Estamos diante daquele diagnóstico popular: "O motor já deu o que tinha de dar". Sofreu todas as adaptações, ajustes e retíficas possíveis; substituíram-se quase todas as peças, mas não dá mais. Tornou-se lento, de velocidade insatisfatória, polui, consome combustível demais e é muito barulhento. (Até de presidente da República se trocou, entregando-se o poder ao PT, que ganhou as eleições justamente prometendo mudar -e não mudou.)
Com todo o respeito aos que o criaram, implantaram e operaram, com a maior compreensão pelas contingências externas e internas que nos condicionaram e até reconhecendo a honestidade política dos seus operadores, é preciso dizer claramente que não dá mais. Está na hora de estabelecer novas práticas na gestão da economia brasileira. Precisamos de "invenção e inovação", um binômio que o PT não soube conjugar quando chegou ao poder. Despreparado para realizar a prometida "mudança" em nome da qual foi eleito, requentou o café que encontrou coado, transformando-o no purgante que nos está impondo.
O PFL, alternativa real, ideológica e política ao PT, trabalha há um ano ouvindo especialistas, realizando pesquisas, promovendo debates para oferecer aos brasileiros uma nova perspectiva e fugindo da mediocridade desse eterno estado de apreensão em que vivemos.


Está na hora de estabelecer novas práticas na gestão da economia brasileira

Os remendos e as achegas de cada dia tornaram-se insuportáveis. Hoje, corre-se ali para domar o câmbio (se subir o bicho pega, se descer o bicho come); ontem, foi-se ali para conter a inflação; para amanhã, promete-se socorro a uma megaempresa que ameaça desempregar leva preciosa de mão-de-obra valiosa e qualificada... Não. Basta de improvisação, de tensão, de conformismo.
Um país com a elite acadêmica extraordinária, com a massa de empreendedores e até com os recursos e com o povo bravo e sábio que tem o Brasil precisa enfrentar a realidade. Estacionar na estabilidade é pouco, é ilusão oportunista, porque isso mantém ligada a bomba-relógio do desemprego crescente. Para sair do impasse, só mudando.
Encararemos a necessidade de superar, de ir além da fronteira social-democrata que o PT adotou e que asfixia a economia brasileira.
Primeiro, porque aumentou o tamanho do Estado e é preciso reduzi-lo para frear o crescimento da carga de impostos que aumenta na proporção dos gastos do governo.
Segundo, porque o processo de abertura da economia estancou e estamos à margem dos ganhos de produtividade do mercado internacional, privados de participar da competição que está empurrando para a frente nações semelhantes ao Brasil.
Estamos acuados, verdadeiramente emparedados, ou seja, condenados à asfixia pelo confinamento ao medíocre crescimento médio de 3% a 3,5% ao ano (se chegar a tanto) e temos de abrir caminho para alcançar taxas de crescimento de 6% a 7% ao ano.
O PFL está na fase final de um repertório completo de propostas e ações para substituir o atual modelo, que hoje sobrevive de remédios e de dietas amargas subindo juros, para fingir que a estabilidade foi alcançada, quando, na verdade, apenas projeta para curto prazo explosões perigosas, como é o desemprego.
Vale a pena acompanhar os estudos que os técnicos envolvidos na construção da proposta do PFL estão realizando e que prevêem desde o aumento da disponibilidade de crédito até a redução da carga tributária; revisão do pacto federativo, buscando na maior autonomia e na maior competição entre Estados e municípios benefícios para os cidadãos e redução dos desníveis regionais; fim dos protecionismos e menor vulnerabilidade das contas externas.
Tenho sobre a minha mesa -e não a esgotei nas leituras a que me dediquei no Carnaval- uma dezena de relatórios e propostas que estão sendo cuidadosamente alinhavadas para que o Brasil tenha, enfim, na prática, um programa de substituição ao modelo social-democrata vigente, que o PT prometeu mudar e, foi-se ver, era pura bazófia de campanha. O PFL não. Vai mudar, porque tem planos e pode mostrar antecipadamente o que fará.
Cortar gastos públicos é o caminho para termos menos impostos e mais empregos.

Jorge Konder Bornhausen, 67, é senador pelo PFL-SC e presidente nacional do partido. Foi embaixador do Brasil em Portugal (1996-98), governador de Santa Catarina (1979-82), ministro da Educação (governo Sarney) e da Secretaria de Governo da Presidência da República (governo Collor).

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