![]() São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2005 |
![]() |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Reforma sem estratégia
CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ
O carro está, francamente, na frente dos bois: enquanto se discute um projeto de lei de uma centena de artigos, uma outra parte da reforma já foi implantada por medida provisória -o Prouni- e fica-se sem saber quais são as metas e quais serão os meios para desenvolver o ensino superior brasileiro. Nem mesmo no diagnóstico há concordância, visto que não se conhecem os dados básicos mais recentes: no site do Inep, a última série sobre investimentos feitos pela Federação, pelos Estados e pelos municípios em educação fundamental, média e superior é de 1999 (veja-se ali o link "Gastos com Educação"). Havendo um diagnóstico objetivo e com alguma legitimidade, uma estratégia efetiva deveria explicitar metas para o ensino superior brasileiro. Se o projeto tomasse como objetivo, por exemplo, assegurar que, em 15 anos, 50% dos brasileiros entre 18 e 24 anos freqüentassem uma instituição qualificada de ensino superior, 50% dos quais em instituições públicas, haveria um rumo. Digamos que, nos mesmos 15 anos, se desejasse, por exemplo, ter 15 universidades incluídas na lista das 500 mais importantes do mundo em vez de quatro que ali constam. Seria desejável termos também 50% das vagas nas instituições públicas federais no período noturno em vez dos 25% que há hoje. Estabelecidas as metas, seria necessário especificar os meios para atingi-las: custos, necessidade de pessoal qualificado, professores, técnicos, fontes de financiamento. Depois de tudo isso, chegaria, aí sim, o momento de comparar alternativas, de acordo com o resultado e com o custo, e então criar os instrumentos legais para que o Estado brasileiro persiga e atinja as metas e gere os meios para tal: esse seria o momento de estabelecer as leis, determinando procedimentos e ações. A educação é a base para o desenvolvimento, e uma estratégia para o desenvolvimento do ensino superior, especialmente o público, é fundamental para o Brasil. É preciso mostrar ao contribuinte brasileiro como e quando ele será beneficiado, recebendo mais e melhor educação superior, em vez de apenas apontar a alguns reitores, estudantes, sindicalistas e certos grupos sociais como suas demandas históricas serão atendidas. Aí está a principal limitação da reforma: dialogar só com alguns grupos e movimentos sociais em vez de fazê-lo com o Brasil. Carlos Henrique de Brito Cruz, 48, engenheiro eletrônico pelo ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) e doutor em física pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), é reitor da Unicamp. Foi presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) de 1996 a 2002. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Jorge Konder Bornhausen: Não dá mais, troca o motor Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |