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TENDÊNCIAS/DEBATES
Ventos contra o apagão
WILMA DE FARIA
Urge incluir a energia eólica como uma fonte alternativa comprovadamente viável e eficiente para compor a matriz energética brasileira
DEPOIS DE seis anos, a ameaça
do apagão volta a incomodar o
país, embora o governo federal
assegure que há logística para evitar o
problema. O momento não poderia
ser mais inoportuno para enfrentarmos uma crise no abastecimento de
energia. Juntamente com a iminência
de recessão global, as turbulências do
mercado financeiro e o crescimento
da inflação, o risco da falta de energia
pode colocar em xeque o que prometia ser o início de um ciclo de crescimento da economia brasileira.
Avançar em infra-estrutura, indicadores sociais e níveis de emprego e
incrementar injeção externa de capital são desejos legítimos para um país
como o Brasil. Mas, em trajetória paralela, é fundamental consolidar uma
sólida matriz energética capaz de sustentar um crescimento econômico a
taxas robustas.
Projetos na área de energia são dispendiosos. Exigem visão de longo
prazo, criatividade e ousadia. Não podem ser movidos pela urgência dos
momentos de crise e escassez. Caso
contrário, se tornam de efeito restrito
e de benefícios limitados a discursos.
Com as dimensões continentais
que o país tem, é inevitável que haja
estratégias diferentes em cada região
ou Estado para a construção de uma
matriz energética que garanta estabilidade no fornecimento. No entanto,
é inegável que não podemos mais permanecer considerando como alternativa à geração hidroelétrica apenas as
usinas termoelétricas, dependentes
de combustíveis não-renováveis e,
em grande parte, de fornecimento externo. Afinal, temos em nossas mãos
o inesgotável recurso da força dos
ventos, combustível natural, limpo,
sem custo e sem dependências externas de qualquer natureza, sejam políticas ou econômicas. Urge incluir a
energia eólica como fonte alternativa
eficiente e comprovadamente viável
para compor uma matriz energética
brasileira no longo prazo. E também
como parte da solução neste momento de risco de apagão.
Em comparação com as energias de
grande capacidade de geração (hidrelétricas, térmicas, nucleares), a eólica
só não é mais barata do que os grandes aproveitamentos hidrelétricos.
Recente documento feito pela Associação Brasileira de Energia Eólica
("Estudo do Impacto da Implantação
de Usinas Eólicas na Oferta de Energia do Sistema Interligado Nacional")
comprova a competitividade dessa
fonte de energia, além de apresentar
números e argumentos bastante contundentes sobre os benefícios da
energia eólica. As informações do documento nos permitem afirmar que:
- a energia eólica custa entre
R$ 200 e R$ 230 por MWh produzido.
Funciona 24 horas por dia, sete dias
por semana, 365 dias por ano, usando
combustível de custo zero (a força dos
ventos). É uma energia complementar à nossa energia de base, a hidroeletricidade, e, portanto, uma necessidade absoluta, principalmente para a
região Nordeste;
- a fonte eólica é competitiva no
Brasil, principalmente no Nordeste.
O aproveitamento de apenas 20% do
potencial já identificado na região seria capaz de tornar o Nordeste independente em termos energéticos,
além de transformá-lo em exportador
de energia para as regiões vizinhas;
- chuva e ventos têm sazonalidade
complementar: quando não há chuva,
há ventos, e vice-versa. Isso ajuda a
estabilizar a oferta de energia, garantindo suprimento contínuo e confiável, cujos benefícios ultrapassam a região, estendendo-se a todo o país;
- em caso de racionamento de energia, sua severidade (graças à fonte eólica) pode ser reduzida à metade.
No
curto prazo, o preço da energia (usado
como sinalizador para novos contratos) cai entre 20% e 30%, dependendo da região. Também há significativa
redução na volatilidade dos custos,
principalmente no Nordeste.
Defendemos a utilização da energia
eólica como estratégia comum a todos os Estados, sobretudo os de nossa
região. O Nordeste como um todo deve buscar o entendimento com o governo federal para que a geração eólica seja reconhecida como forma real e
viável de suprimento de energia elétrica em nosso país.
No Rio Grande do Norte, investimos fortemente no desenvolvimento
do potencial da geração eólica, que
praticamente se iguala ao da geração
hidroelétrica. Essa estratégia habilita
o Estado a seguir crescendo no ritmo
que desejamos. Acreditamos que o
desenvolvimento, principalmente
dos Estados da nossa região, passa pelo aproveitamento dessa oferta de
energia competitiva, inesgotável, limpa, renovável e condizente com o futuro sustentável da humanidade.
WILMA DE FARIA, 61, é governadora do Rio Grande do
Norte (PSB). Foi deputada federal constituinte, prefeita
de Natal três vezes e está no segundo mandato como governadora do Estado.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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