São Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PAINEL DO LEITOR


Decência
"No texto "Nos rumos da decência" ("Tendências/Debates", pág. A3, 20/3), o senador Antonio Carlos Magalhães busca, mais uma vez, colocar-se como paradigma da moralidade pública. Começa citando os romanos, com um aforismo que trata da repetição, e termina tentando golpear minha honorabilidade. Entre um extremo e outro, tenta emergir como uma personalidade capaz de dar conselhos ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Nada mais fora do lugar. Primeiro, porque foram os nazistas, não os romanos, que fizeram da repetição uma fórmula mágica para transformar mentiras em verdades. Segundo, porque o maior patrimônio de um político não é a sua disposição para "botar a boca no trombone", expressão usada pelo próprio ACM, e, sim, a sua biografia. Nesse particular, os fatos são inclementes. O senador ACM cresceu à sombra do regime militar e, com o chicote numa mão e a chave do cofre na outra, impôs, na Bahia, uma ditadura dentro da ditadura. Veio a democratização, ACM aliou-se ao governo Collor, logo tragado por um mar de lama. Na sua trajetória de mais de 40 anos de desmandos, também nunca conseguiu explicar como se tornou um dos homens mais ricos da Bahia nem as ligações perigosas da sua família com a empreiteira OAS. Tudo isso demonstra que ACM age como se a sua história pertencesse a um Brasil e o seu discurso, a outro, radicalmente diverso. Erra ainda ao reivindicar para si os méritos das apurações de corrupção no país. Quem tem agido corretamente é o presidente da República. A diferença é que ACM reivindica métodos da ditadura: prender, primeiro, acusar, depois. O presidente, não. Primeiro, apura, depois toma as providências legais. E há ainda as acusações contra mim. Nada, porém, de concreto. Nenhuma prova substantiva. Em síntese, ACM, ao falar de decência, faz, como de hábito, muito calor e pouca luz. Talvez, em lugar dos romanos, devesse se inspirar no culto dos gregos pelos limites humanos como forma de combater a arrogância. Se assim agisse, certamente não estaria vendo o poder escapar-lhe entre as mãos, a começar pelo da Bahia, onde em breve o carlismo não passará de uma relíquia bárbara."
Jader Barbalho , presidente do Senado Federal (Brasília, DF)

Jabor
"Leio sempre a coluna de Jabor. Aproveito seu raciocínio inteligente e apago suas idiossincrasias. Mas fiquei chocado com o texto "Viva a catástrofe! Os bons tempos voltaram" (Ilustrada, pág. E8, 20/3). Por mais estranho, atrapalhado e, aparentemente, limitado, o procurador Luiz Francisco de Souza, por ser um dos poucos a querer punir o mar de lama na repartição do "engavetador-geral" da República de FHC, é um herói. Não merece o escárnio de seu aspecto físico! Também estou decepcionado com a falta de eficiência e carisma de nossas oposições, mas é estranho tanta tolerância com FHC e tanto desprezo com um homem atrapalhado, mas honesto."
Marcos Martinelli Monaco (São Paulo, SP)

Jabor continua impagável em seu papel de "radical a favor" (Ilustrada, pág. E8, 20/3). O Brasil vinha-se transformando em um país moderno. Presidente poliglota, economia crescendo, índices sociais em franca melhoria. Só os fracassomaníacos chiavam e torciam contra. Agora, para espanto de quem acreditou ter o Brasil se tornado a quintessência da modernidade, Jabor reconhece que o mau-olhado dos fracassomaníacos venceu. A "crise atual" -"dólar alto, plataforma afundando, Jader x ACM, tudo parado'- é resultado do negativismo crônico da plêiade de canalhas e ignorantes. FHC e seu governo não têm nada a ver com isso. São a mandinga e a reza brava vencendo a eficiência moderna. Quem mandou FHC preferir Malan, Fraga, Ornélas e outros em lugar de um bom bruxo ou de um feiticeiro?"
Carlos Victor Muzzi Filho (Belo Horizonte, MG)

Merenda escolar
"O MEC quer suspender a verba da merenda escolar de prefeituras "que não apresentaram a fatura" -algumas em débito em 99 e 2000. Mas o que os novos prefeitos têm a ver com as faltas de seus antecessores? Como vão justificar o uso da verba por alguns larápios que nem os cofres deixaram? De novo, a patuléia vai pagar o pato ficando sem a merenda."
Bráulio J. Corrêa (Araruama, RJ)

Paulista, uai!
"Gostaria que o governador de São Paulo acolhesse a minha cidade e a região do sudoeste mineiro em seu Estado. Estamos abandonados pelo governo do sr. Itamar Franco. Estradas abandonadas, linha férrea desativada, ausência de obras na região. Não precisamos nem sequer de placas indicando a divisa entre São Paulo e Minas, basta sentir os solavancos do carro com tantos buracos na estrada e perceber a falta de sinalização. Itamar, preocupado apenas em brigar com FHC, se esquece de seu Estado. Por isso tudo gostaria de "doar" esse pedacinho de Minas para São Paulo, e acredito que a maioria dos mineiros da região apoiariam a "doação"."
Peixoto de Castro (Passos, MG)

Fumantes
"Êpa! Pode até o leitor Ary da Silva Miranda ("Painel do Leitor", "Alerta", 20/3) ter razão sobre a dificuldade de se largar o fumo. Mas, por favor, não se desfaça do artigo de Clóvis Rossi ("Um pequeno triunfo", pág. A2, 16/3). Ao lê-lo, e por ter convivido com ele na Copa da França, pensei: "Se o Clóvis Rossi parou de fumar, eu também posso". E parei, já faz sete dias! Para isso, no mínimo, a bela coluna dele serviu."
Juca Kfouri (São Paulo,SP)

Fórum
"Em vista das declarações do sr. delegado Luiz Antônio Rezende Rebello ("Delegado e equipe de policiais investigarão crimes de extorsão", Cotidiano, pág. C7, 5/3), tenho a esclarecer o seguinte sobre o caso que me mantém encarcerado no 13º Distrito Policial de São Paulo. 1) A única testemunha a depor contra mim, Milton Inocêncio Bezerra, retratou-se posteriormente perante a excelentíssima juíza de direito Patrícia Alvares Cruz, da 2ª Vara Criminal da Capital, que houve por bem acatar sua retratação. 2) A espúria peça acusatória contra mim e meu filho Franklin Alves de Oliveira Brito inicia-se com a expressão "Consta que...", sem apresentar qualquer prova ou evidência que ultrapasse o terreno do puro boato. O próprio promotor pediu a absolvição de meu filho. 3) Em nenhum momento prestei declarações ao delegado Luiz Antônio Rezende Rebello, cuja folha de serviço parece estar em desesperada busca de uma causa suficientemente importante para justificar sua nomeação para um novo cargo público. 4) Peço que a Folha investigue em profundidade a história do envolvimento de meu nome no caso do fórum. Descobrirá, com certeza, que tudo não passa de uma conspiração sórdida de pessoas movidas por motivos inconfessáveis."
José Alves de Brito Filho (São Paulo, SP)

CPI da corrupção
"O leitor Caio Navarro de Toledo ("Painel do Leitor", "Comunista arrependido", 20/3) acusa-me de reacionário por ter-me manifestado contra a CPI da Corrupção ("Quanto pior, melhor!", "Tendências/Debates", pág. A3, 17/3). Segundo a concepção do leitor, enfrentar a corrupção, indo às suas raízes, como proponho, é ser de direita. Por outro lado, concluo que ser de esquerda é defender CPI's que apenas arranham o verniz da corrupção, sem maior abalo às estruturas viciadas do Estado que as alimentam. Certamente os meus conceitos de esquerda e direita são diferentes dos dele."
Alberto Goldman , deputado federal pelo PSDB-SP (Brasília, DF)


Texto Anterior: Eduardo Matarazzo Suplicy: Os riscos da dolarização

Próximo Texto: Erramos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.