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Respeito às fronteiras
Doutrina Bush deve ser rechaçada na América do Sul, mas países da região não podem tolerar ação das Farc em seu território
ENCERROU-SE sem avanço a
reunião do Conselho de
Ministros da Organização dos Estados Americanos, na terça-feira em Washington. O encontro repetiu o
que já havia sido estabelecido em
Santo Domingo, em 7 de março.
Foram reafirmados o princípio
da inviolabilidade da soberania,
desrespeitado pela Colômbia ao
atacar uma base das Farc em solo
equatoriano, e o compromisso
dos países de combater "ações de
grupos irregulares ou organizações criminais".
Mas um pacto sobre formas
práticas de fiscalizar a fronteira
entre Colômbia e Equador ficou
para a reunião da Assembléia
Geral da OEA, em junho.
Os EUA, que atuaram com discrição no início da crise, começam a ousar mais. A secretária de
Estado, Condoleezza Rice, em
rápida passagem pelo Brasil, disse que "fronteiras são importantes, mas não podem se tornar
meios pelos quais os terroristas
se escondem e se envolvem em
atividades de matar civis".
Esse raciocínio traz em si o risco de importar para a América do
Sul, um subcontinente que vive
em paz há muitas décadas, a lógica da guerra contra o terrorismo
consolidada na Doutrina Bush,
usada na tentativa de justificar a
ação militar no Iraque. Afirmações como a de Rice não deixam
dúvida de que Washington está
disposto a emprestar apoio político a aliados, como a Colômbia,
que porventura violarem a soberania de vizinhos a pretexto de
combater grupos insurgentes.
Por todas as razões, a alternativa de ignorar fronteiras deve ser
descartada no caso em análise.
Apesar de eventualmente se infiltrarem em países vizinhos, o
foco das operações das Farc é a
Colômbia. Não atuam em escala
internacional, como a Al Qaeda.
Nem os EUA no passado agiram como a Colômbia -que atacou as Farc no Equador sem ter
empreendido, de antemão e nos
foros adequados, uma ofensiva
diplomática contra o governo de
Quito. Em 1962, quando a União
Soviética instalou mísseis em
Cuba, o embaixador dos EUA na
ONU, Adlai Stevenson, apresentou provas dessa ameaça antes
de Washington tomar alguma
medida. Mesmo em 2003, o secretário de Estado Colin Powell
levou às Nações Unidas acusações contra o Iraque antes de
ocorrer a invasão desse país.
Existe uma evidente aproximação entre lideranças das Farc
e os governos de Rafael Correa e
Hugo Chávez. Nesse último caso,
há inclusive a tentativa, irresponsável, de justificar as violências cometidas pelas Farc -um
autêntico cartel criminoso rejeitado pela imensa maioria da população colombiana- com base
na suposta ideologia "bolivariana" da narcoguerrilha. Não se sabe, porém, se essa aproximação
rendeu às Farc financiamento e
refúgio, o que seria gravíssimo.
Essa é uma questão ainda por
esclarecer.
Apesar dos percalços, a OEA
vem lidando bem com o litígio
entre Quito e Bogotá. É importante que a soberania territorial
prevaleça, sem concessões à potencialmente catastrófica ideologia do governo Bush. É importante, também, que os vizinhos
da Colômbia reprimam quaisquer tentativas das Farc de adentrar suas fronteiras.
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