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CLÓVIS ROSSI
Falou o pai da Sasha
LONDRES - O que impressiona no
vídeo que o presidente Barack Obama enviou aos iranianos não é o
meio utilizado, embora inédito em
relações internacionais. A televisão, desde que a CNN se implantou,
tem sido usada frequentemente como forma de comunicação de iniciativas diplomáticas, uma espécie
de diplomacia instantânea.
A mudança dramática de tom em
relação ao Irã impressiona mais,
mas tampouco é o que mais chama
a atenção, pelo menos a minha
atenção. O tom é que é absolutamente novo.
Obama foi de uma humildade e
de um respeito insólitos em presidentes norte-americanos. É compreensível que falasse em "novo começo" com a "República Islâmica",
tratada com nome e sobrenome, em
vez de "eixo do mal", como dizia
Bush. Obama foi eleito para inverter os sinais herdados da administração anterior.
Mas ele, pelo menos nesse vídeo,
inverteu os sinais do discurso habitual de todos mandatários recentes
dos EUA. O tom não é imperial, é
coloquial, quase como se estivesse
gravando em uma viagem qualquer
um vídeo caseiro para mandar aos
amigos em casa.
É um vídeo mais do pai de Malia e
Sasha do que do todo poderoso ocupante da Casa Branca.
Claro que discursos são discursos, claro que precisam ser acompanhados de ações para que ocorram
de fato as mudanças insinuadas no
tom adotado no vídeo, claro que há
imensas dificuldades pela frente no
relacionamento Irã/Estados Unidos (para não falar na crise global e
em todos os demais problemas que
fazem com o presidente Lula diga
rezar mais por Obama do que por
ele próprio).
De todo modo, um presidente
norte-americano abandonar o tom
de sermão com que seus antecessores se dirigiam usualmente ao mundo pode abrir avenidas de dimensões e consequências difíceis de antecipar. Mas que vale a pena transitar, lá isso vale.
crossi@uol.com.br
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