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São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2003

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ALTA VOLATILIDADE

Há sinais preocupantes de que o governo Luiz Inácio Lula da Silva sucumbe rapidamente a uma conhecida tentação populista ao negligenciar um movimento de acentuada apreciação do real. Ministros os mais diversos, secundados por autoridades do Banco Central, não se cansam de se declarar, no mínimo, despreocupados com o fato. Há também os que não escondem o júbilo, tentando convencer a opinião pública de que a atual queda do dólar traz apenas efeitos benéficos.
Nenhum movimento que retira, num espaço de quatro pregões, quase 20 centavos de real do preço de uma unidade da moeda americana pode ser considerado normal. Não é porque o câmbio trabalha a favor do poder de compra dos brasileiros que se deve deixar de qualificar tamanha modificação de parâmetros como fruto de especulação, fundada na diferença abissal entre os juros do Brasil e os internacionais.
São capitais de curtíssimo prazo, ariscos, os que entram. Os agentes financeiros (incluindo os operadores do governo) e o público informado estão cientes de que, tal como entraram, esses capitais podem, sob qualquer pretexto, iniciar um novo surto de debandada. O resultado é expor os agentes que precisam tomar decisões (exportadores, importadores, investidores e formadores de preço em geral) a um ambiente incerto, demasiadamente volátil.
Como muitos estão desconfiados da sustentabilidade da alta do real, nem mesmo o suposto efeito benéfico sobre a inflação pode ser atestado. Os formadores de preço não têm condições de apostar num cenário de evolução otimista para o câmbio.
O governo possui instrumentos para intervir num momento como este. No ano passado, as reservas internacionais do BC foram corroídas -justamente porque o banco foi instado a interferir para tentar conter altas explosivas do dólar- e ainda hoje se encontram num patamar muito baixo. Não se deve submeter a economia brasileira a uma instabilidade desnecessária.


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