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CLÓVIS ROSSI
Fogo amigo, versão PT
SÃO PAULO - A economista Maria da Conceição Tavares é das mais respeitáveis figuras da pátria. Muitas
vezes por suas idéias e sempre pela
coragem com que as defende contra
vento e maré. Mas, acima de tudo,
porque não busca vantagens pessoais
com o seu combate.
É uma espécie de cavaleiro andante
em busca de um país melhor, sujeita,
como todo Quixote, a grandes erros e
grandes acertos.
A explosiva entrevista que concedeu a Gabriela Athias, ontem publicada, inscreve-se, com louvor, na primeira das categorias: é uma formidável coleção de equívocos.
Começa pelo festival de desqualificações pessoais de membros da equipe econômica, em especial Marcos
Lisboa. Quem, como Conceição, já foi
vítima de epítetos estúpidos, do tipo
"jurássica", "carbonária" etc., deveria ser a primeira a atacar conceitos,
em vez de agredir quem os formula.
Mas o grande problema da entrevista está em que a economista baixa
sua conhecida metralhadora giratória, que sempre visou os poderosos
entre os poderosos, para o segundo
escalão. Em vez de alvejar o ministro
Antonio Palocci ou até o presidente
Lula, prefere fazer crer que os erros
que encontra na formulação de políticas são culpa dos assessores.
Se se quiser um debate de fato relevante sobre a política econômica, é
preciso definir corretamente os seus
termos. Palocci não escolheu Lisboa
ou Joaquim Levy, seu outro assessor,
porque um é loiro e o outro, alto e usa
óculos. Escolheu-os sabendo o que
pensam e que política defendem.
Da mesma forma, Lula não escolheu Palocci para a Fazenda sem saber de quem se tratava ou que tipo de
política aplicaria.
Mais: centrar fogo na discussão sobre focalização x universalização das
políticas sociais é desviar a atenção
do essencial. O que se tem que discutir é se a política macroeconômica do
governo Lula permite ou não atacar
a chaga social brasileira.
Se sim, palmas para Lula/Palocci.
Se não, fogo neles.
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